As democracias ocidentais sabem (deviam saber) que são muito perigosas as ingerências – mesmo que humanitárias – em palcos próximos do território europeu. A figura da ingerência humanitária – usada na guerra dos balcãs – mostrou-se, reconheçamos, muito fraca das pernas em termos de relevância do Direito Internacional. O que se terá ganho em real politik perde-se no precedente aberto, quase sempre, pela justiça dos vencedores e falsos moralistas.

Independentemente de Kadafi estar, na realidade, a massacrar civis, a verdade é que na Libia se vive uma guerra civil, com duas frentes bélicas, para a qual as Nações polidas e civilizadas devem contribuir com soluções de Paz e não com a ingerência de quem toma uma posição contra um dos beligerantes.

No caso em concreto, parece estranho que a ação política da coligação internacional se faça sentir – mesmo que com o apoio do Conselho de Segurança das Nações Unidas – num momento em que o conflito parecia estar a acabar, verificando-se um controle por parte das forças de Kadafi. É verdade que muitas chancelarias europeias – como a nossa, por exemplo – decretaram o fim do regime de Kadafi cedo de mais, e que agora é preciso que o fim do regime tenha lugar, de modo a que não seja necessário dar uma pirueta e “dar um beijo no próprio rabo”.

Tomara que as forças da coligação – com um estranho excesso de zelo de Sarkozy (que Kadafi ameaçara com “revelações escaldantes”) e a gratuita beligerância torie de Cameron, bem como a traiçãozinha tímida de Berlusconi e Sócrates, depois das simpáticas visitas à tenda do “líder fraternal e guia da revolução da Líbia” – consigam neutralizar as tropas e armas e o próprio Kadafi, o mais depressa possível. A bem de todos.

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