Caminhos de Santiago: Em 2011, passaram pela Mealhada,
pelo menos, 647 peregrinos


Número de peregrinos a passar na Mealhada
é onze vezes maior do que há 8 anos

Foi recentemente publicado – pela Oficina do Peregrino de Santiago, em
Compostela – a estatística da peregrinação do ano de 2011 (de janeiro a
dezembro). Da leitura do documento – disponível em
http://www.peregrinossantiago.es/ – pode registar-se o aumento exponencial do
número de peregrinos de todas as nacionalidades que faz o Caminho Português e os
que, começando em Lisboa, passam, obrigatoriamente, pelo concelho da
Mealhada.

A Oficina do Peregrino de Compostela não disponibiliza a informação de
quantos peregrinos começam a sua peregrinação em qualquer ponto intermédio entre
Lisboa e Porto. Assim, podendo ser uma estimativa por defeito, e sendo certo que
todos os peregrinos de Santiago que partem de Lisboa e chegam a Compostela
passam pela Mealhada, pode afirmar-se que no ano de 2011 passaram pelo concelho
647 peregrinos. Este número é inferior ao número de peregrinos que passaram em
2010 – foram 718 -, mas é importante salientar que o ano de 2010 foi Ano Santo
Jacobeu, ou seja uma época em que o número total de peregrinos é, sempre, muito
maior. Registe-se que em 2010 registaram-se 272 mil peregrinos a entrar na
cidade galega de Santiago, enquanto que em 2011 o número total foi de cerca de
183 mil peregrinos.

Analisando os dados dos últimos oito anos – desde que há estatísticas
publicadas – regista-se um aumento exponencial de peregrinos a passar pela
Mealhada. Em 2004 foram apenas 57 os peregrinos a rumar no sentido sul-norte. No
ano seguinte o aumento não foi significativo – apenas mais um. A viragem dá-se
depois de em julho de 2006 o francês Alain Bezard ter feito a marcação do
caminho português desde Lisboa com setas amarelas. Em 2006 passaram 72
peregrinos, mas em 2007 já passaram 219 – um aumento de 300 por cento. E a
partir daí foi sempre a aumentar: Em 2008 o número de peregrinos a passar na
Mealhada foi de, pelo menos, 357, de 449 no ano seguinte e, como já se disse, de
718 em 2010.

“Para este aumento terá contribuído a divulgação do Caminho Português junto
das comunidades de aficionados do norte da Europa, mas, também, a melhoria das
condições dadas ao peregrino para fazer o Caminho”, declara o mealhadense Nuno
Castela Canilho, peregrino, chefe dos escuteiros da Mealhada e membro da
Archiconfradia Universal do Apotol Santiago. “Falamos, naturalmente, da marcação
da rota fora das estradas nacionais e alcatroadas (trabalho e manutenção da
sinalética que, no percurso Coimbra-Anadia, tem sido feito por voluntários e
pelos escuteiros da Mealhada), do aumento de hospedarias e locais para os
peregrinos dormirem – como a abertura de um Albergue de Peregrinos, privado, na
Mealhada, ou do anuncio da construção de um albergue público em Coimbra – e,
acima de tudo, da gentileza e abordagem das populações à passagem dos
peregrinos”, acrescenta Nuno Canilho, que exemplifica: “Se em 2006, quando
passou Alain Bezard, o peregrino de Santiago era visto com estranheza e algum
receio pelas pessoas, em 2011 a postura dos populares é completamente
diferente”.

“O Caminho Português de Santiago é uma oportunidade de negócio, para muitos
dos cafés, mercearias, padarias, farmácias e outros comércios que estão
espalhadas pelas aldeias que são cruzadas pelo caminho. Uma oportunidade que,
nos dias de hoje, não faz sentido alguém se dar ao luxo de perder!”, assevera
Nuno Canilho, que estende a sentença, também, a residenciais e hoteis da
Mealhada: “A rota está desenhada para ser conveniente ao peregrino a dormida na
Mealhada, depois de na noite anterior ter dormido em Coimbra. Dormida que
implica, para um peregrino jacobeu, o jantar de gastronomia local e substancial
– no comer e no beber -“.

A estatística completa do Caminho
Português, em 2011

Analisando os dados estatísticos referentes ao ano de 2011, e comparando-os
com o ano de 2009 (não sendo possível a comparação com o ano de 2010, por este
último ter sido Ano Santo), os Caminhos Portugueses de Peregrinação a Santiago
de Compostela, continuam a crescer, sendo – em 2011 – o itinerário que regista o
maior crescimento, quase duplicando o número de peregrinos.

O Caminho de Santiago continua a atrair cada vez mais pessoas de todo o
mundo. Sendo que este crescimento mantêm-se desde do Ano Santo de 1993. Em 2011
o número total de peregrinos que solicitaram a “Compostela” (diploma para quem
efetuou a tradicional peregrinação jacobeia) foi de 183.366 peregrinos (+ 37.489
do que em 2009), de um total de 126 países (em 2009 foram 111 países).

Os Caminhos Portugueses quase duplicam o número de peregrinos, sendo o
itinerário que regista o maior aumento. Em 2011 foram 22.062 os peregrinos que
seguiram este itinerário.

Interessante é conhecer quem são estes peregrinos que escolhem os Caminhos
Portugueses para realizar a sua tradicional peregrinação ao sepulcro do Apóstolo
São Tiago Maior, em Compostela. Assim, dos 22.062 peregrinos registados neste
itinerário, apenas 6.498 eram cidadãos portugueses. A maioria foi espanhola (com
8.196 peregrinos), sendo a Alemanha o único país a ultrapassar a barreira dos
mil peregrinos neste itinerário (com 2.557 peregrinos). Este é um dado muito
curioso já que em 2011 quase duplica (em comparação com 2009) o número de
portugueses que peregrinam a Santiago de Compostela.

Em 2011 realizaram a tradicional peregrinação jacobeia um total de 8.649
portugueses (registando-se mais 3795 pere­grinos do que em 2009). Note-se que
Portugal é o único país (dos 5 que mais contribuem com peregrinos) a registar um
crescimento em relação ao Ano Santo de 2010 (com mais 863 peregrinos). Note-se
também que o número de peregrinos portugueses ultrapassa pela primeira vez
(desde 1992) o número de peregrinos franceses.

Outro dado interessante é saber onde estes peregrinos iniciam a sua
peregrinação. Assim, dos 22.062 peregrinos registados nos Caminhos Portugueses,
7.720 começaram a peregrinar em Tui [na fronteira com Portugal, a 3km de Valença
do Minho e a 117 km de Compostela] (destes apenas 213 são de nacionalidade
portuguesa). Já desde Valença do Minho foram 2.815 peregrinos (dos quais 1466 –
mais de metade portanto – são portugueses).

Mas é a cidade do Porto o ponto de partida mais escolhido dos itinerários
portugueses (colocando-se no 8º lugar dos pontos de partida mais escolhidos de
entre todos os Caminhos/ Itinerários). Foram 6.539 os peregrinos que iniciaram a
sua peregrinação na Invicta (dos quais “apenas” 1.924 são portugueses). A partir
de Lisboa foram 647 peregrinos a dar o primeiro passo rumo a Compostela e Ponte
de Lima, Braga e Chaves são as demais cidades preferidas para se iniciar a
peregrinação a Compostela (sendo que os portugueses preferem o Porto, Valença do
Minho e Ponte de Lima).

A tradicional peregrinação jacobeia continua claramente a se fazer a pé
(153.065 peregrinos escolheram esta modalidade no conjunto dos itinerários,
sendo que nos caminhos portugueses foram 18.155. No entanto os cidadãos
portugueses estão divididos! Foram 4.618 que peregrinaram a pé, e 4.026 os que
peregrinaram em bicicleta!), e por motivos religiosos ou religiosos e outros
(172.116 peregrinos deram esta resposta no conjunto dos itinerários, sendo que
nos caminhos portugueses foram 20.799. Esta também foi a resposta da maioria dos
portugueses, com 8.259 peregrinos a peregrinarem por estes motivos).

Verifica-se um claro aumento do número de peregrinos nos Caminhos Portugueses
de peregrinação a Santiago de Compostela, bem como do número de peregrinos
lusos, isto apesar da contínua indiferença do estado português para com este
Grande Itinerário Cultural Europeu.

O Caminho de Santiago é o primeiro e o principal Itinerário Cultural Europeu
e um modelo de relação transnacional pan-europeu, com grande biodiversidade e
diversidade cultural refletida nas suas paisagens e no seu rico património
cultural.

A desarticulação existente na atualidade entre as iniciativas de promoção
local e a inexistência de uma estrutura de gestão global deste itinerário em
Portugal, num momento em que o nosso país atravessa uma grave crise financeira,
é uma oportunidade perdida para o desenvolvimento sustentável, para contrariar a
debilidade do sistema demográfico e a escassa densidade populacional e o
reequilíbrio do sistema rural-urbano.

Em Dezembro de 2010, o Comité de Ministros do Conselho Europeu, aprovou a
Resolução CM/ Res (2010) 53, mediante a qual se estabelece um Acordo Parcial
Ampliado (EPA) sobre os Itinerários Culturais, ao mesmo tempo que propõe uma
nova regulação para os Itinerários Culturais Europeus, de entre os quais se
destaca o Caminho de Santiago, como o Primeiro aprovado.

Durante o ano de 2011, o Conselho de Europa, conjuntamente com a Comissão
Europeia, realizaram um estudo sobre a importância destes itinerários para o
desenvolvimento, competiti­vidade e inovação das PME’s, concluindo-se da
necessidade de articular estratégias conjuntas de I+D entre as universidades e
centros de investigação com as associações empresariais (sobretudo representando
PME’s).

JM/AEJ

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