O
que pode ensinar Cunhal a um jovem liberal?

Assinala-se
em novembro de 2013 o centenário do nascimento de Álvaro Cunhal. Na
próxima semana, passam oito anos sobre a sua morte. Muito se tem
dito e escrito sobre o líder histórico do Partido Comunista
Português e figura grande do comunismo internacional. Como jovem
liberal que sou atrevo-me a perguntar: Que testemunho me pode dar a
mim, a figura de Álvaro Cunhal?


uns anos, em 2009, estudando para elaborar um trabalho
historiográfico sobre a prisão de Cunhal na vila de Luso, em 1949 –
a captura que o havia de manter preso por onze anos, até à fuga de
Peniche – pude procurar compreender as motivações do homem e do
revolucionário. Ficou uma profunda reflexão, que ainda hoje me
acompanha e que, estou certo, me poderá ter marcado profundamente
pessoal e intelectualmente.

Não
acolho o modelo de sociedade de Álvaro Cunhal, acredito,
sinceramente que é profundamente desadequado desde a sua origem mais
simples, a da própria compreensão do papel do Homem na comunidade,
pelo que não é o político que me marca. Sou um Liberal e por isso
defendo o que, provavelmente Cunhal mais renegaria.

Não
acolho o estilo de liderança, nem a postura de gestor de pessoas e
projectos que Álvaro Cunhal utilizava, acredito muito mais na
aproximação pelo Amor do que pelo Temor ou pela deferência
carismática e indiscutível. Prefiro, por principio, a Fraternidade
ao centralismo democrático.

Mas
Álvaro Cunhal, a sua vida e o seu percurso, impõe-me resposta a uma
pergunta simples: Que causa ou coisa me poderia fazer lutar até às
últimas consequências? Dito de outra forma: Por quê (por que causa
ou coisa) estaria eu disposto a prescindir de conforto, de
estabilidade, da família e da própria Liberdade?

Infelizmente,
há anos que procuro a resposta, e ela não é imediata. E digo
infelizmente porque será importante para um Homem ter sempre
presente o que o faria lutar vigorosamente, como Álvaro Cunhal,
Militão Ribeiro e muitos outros homens e mulheres lutaram pela queda
de um regime político. O testemunho de Cunhal mostra-me a mim, que
amo a Liberdade, que o Ser completo se faz no sacrificio e no
altruísmo militante, independente de tudo o resto.

JORNAL DA BAIRRADA
6 de junho de 2013