Ana Rita Abreu Pereira
Bombeira de 2.ª – BV Alcabideche
(1989-2013)
Há um número crescente de mulheres bombeiras em Portugal. Há quem concorde, há quem discorde, há quem não se aperceba, há não se queira aperceber. Há quarteis novos sem camaratas femininas, há corporações com grupos de mulheres organizadas e associadas. A bombeira que morreu ontem era uma das muitas mulheres bombeiras em Portugal.
Terá ido com a mesma vontade com que as bombeiras (e os bombeiros também) da Mealhada pedem para ir para fogos e incorporar Grupos de Reforço noutras paragens. Terá tido o sentimento de boa adrenalina que todos os bombeiros sentem e terá ido, disponível, voluntária, de Alcabideche para Tondela, como foram os Bombeiros da Mealhada. A Ana Rita terá subido de Alcabideche para Tondela, os bombeiros da Mealhada, que estavam em Castro Daire, desceram até ao Caramulo. 
Mas o pior aconteceu. Não se sabe porquê. Para já. Não se sabe se há mais culpados – para além dos animais que, ao que tudo indica, atearam os fogos que lavram naquela serra há mais de cinquenta horas. Mas a Ana Rita junta-se à lista onde já se encontrava António Nuno Ferreira e Pedro Rodrigues. Deixa uma filha de quatro anos que daqui a dez já não se lembrará da mãe. Deixa uma corporação em sofrimento. Deixa uma comunidade em dor. Deixa um país de luto. Infelizmente, não deixa os estupores que atearam os fogos na prisão, nem sequer os deixará incomodados.
Foram os bombeiros da Mealhada que foram recolher o cadáver da Ana Rita no sítio onde pereceu. Um cadáver “que parecia um tronco queimado”, nas palavras dos nossos homens. Um cadáver, irreconhecível, de alguém que morreu no campo de batalha. Os que ficam, os que sofrem, os queimados, os que estiveram lá, guardarão a memória de um modo de vida arriscado ao serviço dos outros. 
Para mim, fica a convicção: Já há demasiados heróis nos cemitérios.