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Todas as palavras sobre a Grécia já foram escritas.Neste momento só falta resolver o problema. Cada dia que passa há dados novos – mesmo quando nada acontece é relevante – e o assunto parece que vai assolar a Europa (e talvez até o mundo) o verão inteiro…
Ontem à noite, o anuncio de Tsipras de marcar um referendo para saber se o povo quer aceitar a proposta dos credores apanhou toda a gente de surpresa. Provavelmente, se tivesse dito que se demitia provavelmente não teria provocado tanta consternação. Mas parece-me que nem em relação a isso Tsipras foi honesto… Ele não quer saber o que diz o povo, ele quer, apenas, duas coisas: Quer libertar-se do ónus das consequências de uma decisão (fosse ela qual fosse teria problemas); e Queria mais um mês de adiantamento e financiamento – foi isso que pediu imediatamente e foi isso que hoje o Eurogrupo lhe negou…

Quando foi eleito apresentou-se como se tivesse descoberto o segredo de Midas. O seu entusiasmo garantia que ele sabia como sair da crise sem austeridade e sem sair do euro. O próprio António Costa, em Portugal, mostrou-se entusiasmado com a formula de “sol na eira e chuva no nabal”. Ora acontece que o segredo de Tsipras era muito mais simples do que poderia parecer: Bastava chegar à Europa e dizer que queria continuar a receber dinheiro, mas sem austeridade. Porquê? Porque se não a Grécia sairia do Euro e da União. Os ministros do outro partido da coligação que suporta Tsipras chegou mesmo a dizer que a Grécia estava disposta a escancarar as fronteiras para deixar entrar os imigrantes e os terroristas do Estado Islâmico direitinhos para a Alemanha.

Parece-me que os últimos meses foram passados, com grande paciência por parte dos parceiros europeus, a explicar aos governantes gregos que o dinheiro não se multiplica por osmose e que a solidariedade não é uma estrada de via única. Schauble chegou mesmo a dizer que não há promessas sérias se feitas a contar com o dinheiros dos outros.

O FMI perdeu a paciência muito mais cedo, e manteve uma postura que me parece completamente errada, a de impor um plano ideologico aos países que apoia. Mas do Eurogrupo e do Banco Central Europeu Tsipras não tem qualquer razão de queixa. Tudo lhe tem sido perdoado e tudo lhe tem sido concedido… mas há limites.
E o limite parece-me que pode ter sido atingido com este numerozinho do referendo.

A Grécia e os gregos podem e devem falar de solidariedade. Os europeus têm um dever de solidariedade para com todos os países da União. Mas há limites. O povo grego pode não ter culpa dos políticos que teve e tem tido. Mas não foram os alemães que votaram em Papandreau, e depois em Samaras e agora em Tsipras. O povo grego pode olhar para o que lhe foi cortado e dizer que é muito, que é demais. Mas tem de olhar para o salário médio de um português, e para o facto de ninguém na Europa ter ou ter tido 15 salários por ano, e para o facto de ser dificil de compreender para qualquer pessoa que o Estado não cobre impostos, não cobre eletricidade ou não cobre rendas. Os gregos têm de perceber que se estão dispostos a receber o dinheiro dos Europeus têm de viver pelo menos com o que têm os europeus em igualdade de circunstâncias.

A Europa pode estar à beira da falência política, e a entrar em águas desconhecidas. Mas os estados e os povos têm de perceber que a solidariedade é uma estrada com dois sentidos e não apenas com o que vem ao encontro dos nossos interesses.

No domingo, dia 5 de julho, perceberemos se o povo grego compreende isso.