Ao som de «A Dança dos Cavalheiros», de Prokofiev pela Royal Opera House

[2519.] ao #15696.º

 
É demasiado simplista a justificação de que a Rússia de Putin invadiu a Ucrânia porque está louco. A metodologia medieval de conquistar um país soberano na Europa, em 2022, é enquadrável numa perspetiva clínica ao nível da saúde mental, mas parece-me demasiado redutora.
Se Putin quisesse, apenas, substituir a liderança de Zelensky por alguém mais próximo dos seus pontos de vista e objetivos, conseguiria fazê-lo de forma muito menos penosa – para os ucranianos, mas especialmente para os russos e o seu exército -. Manipulava as eleições, patrocinava um golpe de estado… não precisaria, no século XXI, de conquistar Kiev.
Se a questão de Putin era a adesão da Ucrânia à OTAN (NATO em inglês) ou à União Europeia, também não precisava de hastear a bandeira russa no mastro do palácio presidencial ucraniano. Putin sabe que nenhum país com conflitos militares latentes pode aderir a qualquer uma das organizações, e ele próprio tem garantido – tanto com a invasão da Ucrânia em 2014, como com as questões separatistas de Donetsk e Lugansk – que a premissa militar se observa.
Também não me parece que a questão económica e a riqueza da Ucrânia seja a razão da invasão russa. A invasão está a destruir o tecido produtivo ucraniano e seria sempre mais fácil anexar um país inteiro do que um escombro.
Muitas outras razões podem ser colocadas para justificar a invasão medieval de Putin. Nenhuma me parece que o consiga, de facto, fazer. E uma eventual psicopatia do presidente do Russo parece demasiado simplista.
Por muito que nos custe, e de não haver nada que justifique uma barbárie desta dimensão, uma coisa nos parece certo: Se pelo menos soubéssemos de uma razão, se entendêssemos o porquê, certamente custar-nos-ia muito menos aceitar esta guerra.
Jornal da Mealhada – Mil Carateres #09 – 16MAR22
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