Diário de Coimbra #57 – Publicado no Diário de Coimbra de 12DEZ25
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Na participação quinzenal que temos no Diário de Coimbra, partilhamos a reflexão que nos guiará nos próximos dias e na preparação do Natal e Ano Novo, no âmbito da dinâmica da ‘Luz da Paz de Belém’. Neste texto lançamos ponte sobre os nossos propósitos e intenções no sentido de esta ‘Luz que orienta’ ilumine a nossa Vida, mas também os faróis que as nossas comunidades têm sempre iluminados – de dia e de noite – e que permitem que, enquanto sociedade, não encalhemos (bombeiros, forças de segurança, IPSS, autarquias, associações cívicas, culturais, ou de educação).
Há gestos que parecem pequenos, quase insignificantes, até percebermos a força silenciosa que carregam. A Luz da Paz de Belém é um desses gestos: uma chama frágil que viaja desde a Gruta da Natividade, transportada por crianças e jovens, e percorre o mundo inteiro para lembrar a cada um de nós que a Paz não se impõe — acende-se!
Este ano o Corpo Nacional de Escutas convida-nos a olhar para esta chama através do lema “Uma Luz que orienta”. E, em Coimbra – em particular –, não podemos deixar de pensar naqueles que, todos os dias, são essa Luz. Antes mesmo de receberem a chama, já a transportam no que fazem: os bombeiros que avançam quando todos recuam, os profissionais de saúde que seguram vidas nas suas mãos, os polícias que protegem o que não se vê, os voluntários que dão tempo, mãos e coração sem esperar retorno.
A Luz da Paz de Belém nasce num lugar marcado pelo caos e o conflito – em Belém, na Cisjordânia –, mas é, toda ela, uma imagem da esperança cristã, e o seu brilho não pertence apenas aos crentes. É universal, porque ilumina algo que todos reconhecemos: a dignidade humana. E é aí que a chama se torna ponte entre aquilo que celebramos e aqueles que servem. Eles são, no quotidiano, a luz que orienta as nossas comunidades. São faróis discretos que evitam naufrágios, são presenças que transformam medo em confiança.
Na Região de Coimbra a cerimónia de partilha regional, presidida pelo Bispo de Coimbra, Dom Virgílio Antunes, acontecerá na próxima segunda-feira, em Arganil. Um território que há poucos meses foi sacrificado pelo fogo, pela desgraça natural que fustigou pessoas, famílias, empresas e instituições.
Não foi inocente a escolha de Arganil. Os escuteiros quiseram levar a Luz da Paz de Belém à escuridão do que foi queimado, à dureza do que foi destruído e ainda não renasceu.

Porque quando os escuteiros distribuem a Luz da Paz de Belém, não entregam apenas uma vela acesa. Levam consigo um convite: não deixem a esperança apagar-se. E, ao vê-la chegar às mãos daqueles que deram de si para combater as chamas e que vivem, todos os dias, o Serviço como missão — nos quartéis, nos hospitais, nas ruas, nas instituições sociais — percebemos que a esperança não é um conceito abstrato. Tem rosto. Tem farda. Tem cansaço. Tem coragem.
Vivemos tempos em que a escuridão facilmente se impõe: crises, conflitos, polarização, solidão. A Luz da Paz não resolve tudo — mas recorda-nos que nenhuma noite é total enquanto houver quem permaneça de pé com uma chama na mão. E é essa certeza que gostaríamos que esta luz reacendesse em cada casa, cada grupo, cada pessoa que a recebe: a esperança é sempre possível, e começa sempre por alguém que decide iluminar o caminho dos outros.
Neste Natal, que a Luz da Paz de Belém seja mais do que símbolo. Que seja compromisso. Que cada um de nós, à sua medida, se torne também uma luz que orienta — discreta, firme e generosa. Porque a paz constrói-se assim: chama a chama, gesto a gesto, vida a vida.
