Duas notas de
atualidade

A Falência da Democracia

Vivemos os acontecimentos
históricos sem ter a concreta noção de que estamos a presenciar algo de
verdadeiramente transformador. Sugerimos que se olhe para o que se está a
passar na Grécia como se de uma cronologia de guerra se tratasse.

Giorgos Papandreou, o
primeiro-ministro grego, foi a Bruxelas negociar um pacote extraordinário de
medidas para que a República pudesse receber o financiamento previsto até ao
fim do ano. No sentido de serenar os ânimos – nomeadamente os radicalismos da
oposição de direita, liderada por Antonis Samaras – Papandreou, chegado a
Atenas, sugere a realização de um referendo aos helénicos.

A medida revelou-se,
naturalmente, disparatada. Não faz sentido perguntar aos gregos se querem
embarcar quando a canoa já vai no mar alto e sem terra à vista… E também não se
conseguem acordos com os alemães sem lhes dar garantias, não só de pagamento
como de empenho extremo. Papandreou ainda conseguiu uma moção de confiança no
Parlamento, no domingo, mas na segunda-feira teve de se demitir.

Papandreou e Samaras decidiram,
então, negociar a constituição de um governo de unidade nacional. Mas impuseram
a realização de eleições a 19 de fevereiro e a nomeação de um primeiro-ministro
independente. Os dois líderes políticos gregos decidiram, então, suspender a
Democracia por três meses. Nomeiam um chefe de Governo a prazo, incumbido de
tomar as medidas difíceis, de fazer o trabalho sujo, para depois, a 19 de
fevereiro, os partidos voltarem ao leme de um barco que hoje, notoriamente, reconhecem
não conseguir dominar.

O nome do próximo
primeiro-ministro grego terá sido conhecido ontem, terça-feira, já depois do
fecho da nossa edição. À hora que escrevíamos este texto eram já duas as negas
– especialmente a de Lucas Papademos, antigo vice-presidente do Banco Central
Europeu, que justificou a recusa declarando que em três meses não consegue
fazer nada –.

Se na passada semana os analistas
garantiam que Papandreou ou era muito esperto ou um tonto – provou-se a segunda
hipótese –, a verdade é que Samaras parece ser um hipócrita e os gregos não têm
alternativas… Não voltará a Ditadura Militar que governou a Grécia de 1967 a 1974, mas os pais da
Democracia já viram que, perante a sua incapacidade, não há alternativa a
suspender a Democracia. Os Gregos adoptaram uma velha medida da República
Romana: Nomeiam um Tirano por tempo determinado.

175 anos de concelho da Mealhada:
Faltam razões para comemorar?

Na maior parte das vezes, as
ideias até nem são más… O problema está em quem as sugere!

Na passada semana lembrámos os
nossos leitores – e entre estes os que são nossos autarcas – de que no domingo
o concelho da Mealhada fazia 175 anos desde a sua criação. Apesar do desafio
lançado para, nem que fosse através das nossas páginas, se recolherem
testemunhos da efeméride, a verdade é que caiu tudo em saco roto…

Se calhar faltarão razões para
comemorar 175 anos de concelho da Mealhada…

A Assembleia Municipal da
Mealhada procura, entusiasticamente, comemorar os 33 anos do 25 de Abril… E os
34 anos, e 35 anos…, anualmente, mesmo que se repitam as queixas de que “são
sempre os mesmos na mesma sala vazia!”, mas entende não ser necessário
assinalar os 175 anos da criação do Município da Mealhada. Lamentamos, mas não
estranhamos.

Será que os líderes políticos de
hoje estão a guardar-se para comemorar o bicentenário? Interessa lembrar que
faltam 25 anos… E pode ser tarde de mais…

O concelho do Carregal do Sal
foi criado no mesmo Decreto que o da Mealhada. Fez no domingo, portanto, 175
anos (que engraçado…). No Carregal houve festa com sessão solene comemorativa
e com a presença do Presidente da República (que curioso…).

É bem verdade que procuramos
ser sempre os mais poupados e dispensamos as festas… e o Chefe de Estado até
nos merece voto de repúdio pelas suas prioridades nas funéreas participações…
Mas insistimos na pergunta:

Faltarão razões para comemorar
175 anos de concelho da Mealhada?

Editorial do Jornal da Mealhada de 9 de novembro de 2011
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