No domingo, 15 de janeiro, Dia de Santo Amaro, morreu Manuel Fraga Iribarne. Dom Manuel Fraga Iribarne. Ou simplesmente: Fraga. Presidente da Xunta da Galiza durante 15 anos (1990 a 2005), cargo que abandonou em junho de 2005 depois de ter ganho as eleições para a Xunta, aos 82 anos, perdendo a maioria absoluta por um deputado.

Manuel Fraga Iribarne é uma personagem que sempre me motivou uma grande curiosidade, na procura a algumas respostas.

A principal das questões que me suscita a vida política de Fraga tem a ver com o seguinte: O espirito democrata das pessoas está nas pessoas ou na sua circunstância? Ou seja, um responsável político é democrata ou está democrata numa determinada altura?
Fraga Iribarne foi ministro de Francisco Franco, o Generalíssimo ditador das Espanhas. Foi, de 1962 a 1969 ministro do Turismo e da Informação. Em boa verdade, foi Fraga Iribarne o pai do Turismo Espanhol, da afirmação da Espanha como destino turistico mundial de sol e praia, dos Paradores em luagres históricos. Isto na década de 60 do século passado. Em 1966, foi o pai de uma nova Lei de Imprensa – tema relevante numa ditadura, convenhamos.
Em 1973 tornou-se embaixador de Espanha no Reino Unido, numa espécie de prateleira dourada, depois de se ter incompatibilizado com alguns dos ministros do Governo Carrero Blanco.

Em 1975, com a morte do Caudilho, Fraga regressa a Espanha, para assumir funções no Governo de Transição e da Monarquia Restaurada, como segundo vice-presidente para os Assuntos Interiores e para a Governação, executivo chefiado por Arias Navarro. Ao longo dos dois anos da transição, o ministro o Interior soube segurar o país na transição suave e democrática, apesar de nesta altura de manifestações que acabavam com mortos – nomeadamente dois militantes das comissiones obreras – Fraga atreveu-se a dizer “La calle es mia!” A Rua é minha!.
Fraga foi um dos pais da Constituição Democrática – aprovada em 1978 – e fundou o partido da direita democrática, a Aliança Popular, que mais tarde se tornaria o Partido Popular.
Fraga não voltaria a ocupar lugares governamentais. Sucedeu-lhe na liderança do partido um seu protegido – José Maria Aznar, que viria a chefiar o Governo de Espanha de 1996 a 2004. Foi o mentor de outro galego – Mariano Rajoy – que é primeiro-ministro de Espanha desde 20 de novembro de 2011. Fraga foi o único espanhol a candidatar-se a todas as eleições democráticas em Espanha. Foi deputado, eurodeputado, senador.

Em 1990 este galeo de Villalba, mas que há muitas décadas se perdera por Madrid, regressa para ser presidente da Xunta da Galicia – Presidente do Governo Autonómico da Galiza. Durante os 15 anos do seu madato, a Galiza tornou-se um ponto de interesse turistico global – graças ao apoio que deu Fraga aos Caminhos de Santiago e ao turismo jacobeu. Cidades como Vigo e Corunha tornaram-se importantes polos industriais. A Galiza mostrou à Espanha que não é uma coutada de analfabetos e rurais!

Ontem morreu Dom Manuel Fraga Iribarne. Uma personalidade incontornável da história da Espanha na segunda metade do século XX e na transição democrática (com boas e más razões a justificá-lo!). Um homem igual a si próprio!