28 DE JANEIRO DE 2014
Três dias depois da ‘Conversão de São Paulo’
 
Irmãos Caríssimos,
 
Saulo de Tarso fazia a estrada de Damasco quando foi “envolvido” (a palavra é a litúrgica) por uma luz intensa que o deixou cego. Encadeado ouviu uma pergunta: «Saulo, Saulo, porque Me persegues?». Naturalmente sem conseguir ver seja o que for, respondeu com a pergunta natural: «Quem és tu?».
Os companheiros levaram Saulo até ao final da viagem, a Damasco, e o cego ficou três dias sem vista e sem comer nem beber. 
Foi Ananias de Damasco que, a mando de Jesus, foi à procura de Saulo e o batizou. Estava convertido.
 
A conversão de Saulo não foi imediata. Demorou três dias até perceber que teria de mudar. Três dias em escuridão, em abstinência total de comida e bebida, naturalmente em sofrimento. Crescer doi. Há dores musculares e há dores de transformação que ensinam e, usando uma linguagem bíblica, convertem.
Jesus fez uma pergunta simples a Saulo de Tarso: «Porque me persegues?». Fiz-te alguma coisa? Há alguma coisa em mim que te motive a procurar destruir e magoar os que me são fieis? Incomodam-te assim tanto? Ameaçam-te de alguma maneira? Saulo não compreendeu imediatamente, porque se isso tivesse acontecido, possivelmente teria percebido que o castigo da cegueira valeria a pena uma resposta imediata. Não compreendeu, não respondeu e continuou cego.
Mas será que Saulo ficou cego com a luz que o envolveu? Ou pura e simplesmente deixou de ver… porque cego sempre esteve…
 
E nós? Será que já deixámos de estar cegos?
 
José Saramago, na contracapa do seu livro ‘Ensaio sobre a Cegueira’ tem uma daquelas frases lapidares que ele próprio inventava, mas que citava de forma a parecer uma erudição maior. Aquela ideia de que se dermos a entender que o dizer é antigo, milenar, ele ganha sabedoria e fortalece-se.
 
«Se puderes olhar, vê. Se puderes ver, repara.»
 
São três coisas diferentes? Olhar, Ver e Reparar?
Serão três coisas diferentes? Acreditar, Ser e Ser Testemunho?