Pampilhosa: “Farol de cultura”

Vítor Matos, presidente da Junta de Freguesia da Pampilhosa, afirmou, um dia, numa sessão de inauguração de uma qualquer iniciativa na vila, que a Pampilhosa era “um farol de cultura no concelho da Mealhada”. A imagem é humorada, mas é, também, muito interessante. Também de Carlos Cabral, presidente da Câmara Municipal da Mealhada e pampilhosense, é conhecida a declaração de que a Pampilhosa é uma terra de associações onde sempre se praticou a democracia, mesmo quando o país vivia em ditadura. Estas duas ideias, intimamente ligadas, não podem deixar de ser citadas quando se vive um mês em que a Pampilhosa marca, de forma total e notória, o panorama cultural do concelho da Mealhada.
A PampiArte, a exposição com vinte cinco artistas plásticos, a exposição dos trabalhos das crianças sobre a “Pampilhosa do Futuro”, a edição de quatro selos alusivos aos 25 anos da elevação da Pampilhosa à categoria de vila, a actuação de um grupo folclórico cossaco, as actuações, o intercâmbio e a recepção da Filarmónica Pampilhosense à Real Filarmónica de Hendersem, na Bélgica, e o XXIII Festival Internacional de Folclore da vila da Pampilhosa – promovido pelo Grupo Regional da Pampilhosa do Botão –, a 31 de Julho, são iniciativas que, individualmente, numa qualquer localidade do concelho – em Luso ou na Mealhada, nomeadamente, mereceriam atenção por serem feito assinalável. Acontece que estas iniciativas, promovidas pela Junta de Freguesia e pelas associações, e não pela Câmara Municipal, acontecem ao mesmo tempo e num período de quinze dias, enquanto decorrem as festas em honra de Santa Marinha, padroeira da Pampilhosa.
A Pampilhosa é, de facto, um caso de estudo num concelho em que o movimento associativo parece estar excessivamente dependente da Câmara e onde o ritmo das iniciativas é muito diferente. Não dizemos que não haja actividades de grande valor nas outras freguesias. Mas temos de reconhecer que o volume de iniciativas de qualidade, ao mesmo tempo, na Pampilhosa, é facto digno de registo e de elogio.
Fruto de uma tradição proletária, mais comunitária, de envolvimento nas associações locais. Fruto de uma herança de vivência de valores de Igualdade, Liberdade e Fraternidade – de tradição maçónica – em muitas das colectividades da vila ferroviária. Fruto de um bairrismo, muitas vezes mal entendido, de auto-determinação e de vivência numa cultura de marcar pela diferença e pelo arrojo. Fruto de um ambiente de caldo de culturas que o mais importante entreposto ferroviário com a Europa proporcionou durante décadas. Todas estas podiam ser razões alvitradas para justificar a nossa concordância com a declaração de Vítor Matos: “A Pampilhosa é o farol de cultura do concelho da Mealhada”.
Há vinte e cinco anos, em 9 de Julho, por iniciativa da deputada do PCP pelo círculo eleitoral de Aveiro, Zita Seabra, a Assembleia da República votava, por unanimidade, a elevação da Pampilhosa à categoria de vila. Em 25 de Setembro seguinte, a Lei n.º67/85 promulgava a deliberação e tornava-a oficial e definitiva. Vinte e cinco anos passados, não há dúvida de que a Pampilhosa – a Junta e as suas colectividades – soube assinalar o aniversário com vitalidade e arrojo, mostrando que se trata de uma grande vila, digna desse nome e capaz de brilhar na região.

Editorial do Jornal da Mealhada de 21 de Julho de 2010