13. Auto-elogio sem cuspir na sopa?

O auto-elogio (dizem-nos que Homem Cristo o identificou com o “cuspir na sopa”) não é bonito. Eis uma regra de humildade para boa convivência. Será sempre importante arranjar quem o faça por nós! Mas como fazer que os outros se associem às nossas alegrias sem para isso nos gabarmos do que fizemos? Não sabemos.
Numa reunião de Câmara, no período de aprovação da acta, o vereador com o pelouro do ambiente relatou a visita surpresa que fez à empresa da Lameira de Santa Eufémia, Alcides Branco, alegada responsável pelos maus cheiros que têm assolado as freguesias do Luso e da Vacariça. A declaração foi recolhida pelo repórter do Jornal da Mealhada, o único, aliás, a fazer-lhe referência. Noticiámos o assunto e pedimos esclarecimentos à Direcção de Economia do Centro, à Inspecção-Geral do Ambiente, ao Instituto do Ambiente, à Guarda Nacional Republicana, à Delegação de Saúde da Mealhada, à CCDRC e à firma visada. Na altura só a Alcides Branco respondeu, negando as acusações e perguntando se “podemos, em nome do ambiente, sacrificar a actividade económica?”.
Fomos também acusados de divulgar informações falsas, dado que nenhum dos outros jornalistas que assistiram à reunião da Câmara falou no assunto e a acta da reunião não registou a declaração do vereador. O director do Jornal da Mealhada pediu ao vereador que esclarecesse a verdade e ele assim fez.
Passados sete meses e mais algumas semanas, a Inspecção-Geral do Ambiente deu sinais de vida. “Ruído, maus cheiros e contaminação da ribeira da Vacariça, por gorduras” é a epígrafe do documento enviado à nossa redacção e ao qual nos referimos noutro lugar desta edição. Ficámos, agora, a saber que houve uma inspecção à empresa e a denúncia que a espoletou tem data de 16 de Março de 2006, curiosamente a data do envio do nosso fax para a Inspecção-Geral do Ambiente. Mas o vereador em 9 de Março já tinha feito a denúncia… Sabemos que foi lavrado um auto de notícia e as infracções detectadas deram origem a um processo de contra-ordenação. Vale a denúncia de um jornal onde não vale a de um vereador? Não nos cabe responder. Agradará, contudo, aos leitores do Jornal da Mealhada saber estes factos.
Estamos contentes e agrada-nos pensar que há mais quem o esteja.
Dá-nos também especial conforto proporcionar uma edição do Jornal da Mealhada com dois temas centrais, o balanço do trabalho de um ano de mandato autárquico e os cento e setenta anos do concelho da Mealhada. Quanto ao primeiro pedimos contributos de todas as forças políticas presentes em cada uma das autarquias. Uns foram diligentes e responderam, outros não. Haverá quem se queixe do facto de as oposições terem menos visibilidade que o poder. Lembrar-nos-emos deste momento, quando nem todos se deram ao trabalho de se fazer ouvir. Se temos de avaliar o trabalho dos autarcas de quatro em quatro anos, faria sentido parar para tirar ilações nesta altura.
Estaremos hoje melhores que há um ano? Certamente estaremos muito diferentes do concelho criado em 1836. Esperamos voltar ao tema e ir celebrando a efeméride, durante este mês, num esforço de reflexão.
A primeira edição da presente série do Jornal da Mealhada debruçava-se sobre os cento e cinquenta anos do concelho. Apresentamo-nos hoje com mais páginas e com novo formato, também num momento especial da história concelhia.
O auto-elogio não é bonito mas sabe bem fazer bem as coisas, (só) ao serviço dos nossos leitores.