Mil Carateres #16 – Publicado no Jornal da Mealhada de 06JUL22

[2543.] ao #15809.º

Alerta prévio: Se tens entre 16 e 26 anos, por favor não leias este texto! Todos preferimos que não o faças!

A Fundação José Neves publicou a 21 de junho a segunda edição, a de 2022, do Relatório “Estado da Nação na Educação, Emprego e Competências” – acessível nesta morada https://joseneves.org/pt/estado-da-nacao-2022/ e com a sessão de apresentação no Youtube -. Este documento apresenta um retrato sobre a evolução da conjugação dos resultados na Educação, mais propriamente no domínio das Competências, e a sua conjugação no Emprego, e especialmente nos salários e nos rendimentos dos trabalhadores. E é mesmo importante que se leia o que diz este relatório, antes de se propalarem as frases feitas do costume autojustificativas de medidas que num país de brandos costumes nunca são avaliadas.
Não conseguimos em Mil Carateres analisar todo o documento e com isso justificar o que dissemos acima. Assim, seja-nos tolerado hoje o excesso e permita-se que abordemos três ideias simples, que o Relatório documenta friamente.
Primeira ideia – Os aumentos dos salários não estão a refletir-se em salários reais dos mais qualificados.
“Entre 2011 e 2019 o salário médio dos portugueses aumentou apenas para os trabalhadores com o ensino básico, na ordem dos 5%, por força do aumento do salário mínimo por decreto-lei e por via da negociação coletiva”. Pode até concluir-se do Relatório que o aumento ‘potestativo’ dos salários mais baixos provocou uma perda real de rendimentos dos trabalhadores com mais qualificações. Os trabalhadores com o ensino superior perderam 11% de salário real, e até os que têm o ensino secundário perderam rendimento, na casa dos 3%. Se a análise destas medidas se focar apenas nos mais jovens, percebemos que entre os jovens licenciados portugueses, na última década, os seus salários reais desceram 15%. Desceram 12% entre os que possuem o grau de mestre e 22% entre os doutorados.
E não é difícil perceber que do esforço hercúleo das empresas para aumentar os salários mínimos, não há margem para acompanhar proporcionalmente os salários dos trabalhadores diferenciados ou mais qualificados.
“Há cinco países da UE em que os trabalhadores menos qualificados ganham menos do que os muito qualificados em Portugal e noutros 13 os trabalhadores que têm secundário são mais “ricos” do que os nossos licenciados”, frisa o Relatório.
Segunda ideia – O investimento no aumento das qualificações não está a refletir-se num aumento da produtividade.
O Relatório considera que, apesar de os jovens estarem cada vez mais qualificados, isso só se reflete na produtividade quando estes “têm um peso superior a 40% no total de trabalhadores”. “A produtividade em Portugal tem perdido terreno face à média europeia e nem o aumento das qualificações das gerações mais jovens inverteu a tendência. Em 2019, éramos o 6.º país com menor produtividade – só acima de Roménia, Polónia, Letónia, Grécia e Bulgária – e desde 2000, ela nunca ultrapassou os 70% da média europeia (a última vez foi em 2013), tendo chegado à pandemia nos 66%”, diz o Relatório.
Terceira ideia – Os gestores/empregadores portugueses não têm qualificações.
Por fim há o velho problema dos gestores portugueses. Que é o da sua própria qualificação, em que quase não se tem visto investimento, com o país a apresentar a maior percentagem de empregadores que não terminou o ensino secundário. “Em 2021, era o caso para 47,5% dos empregadores, praticamente o triplo da média europeia (16,4%)”, lê-se no Relatório.

Se contrariamente ao que te foi pedido, tens entre 16 e 26 anos e estás a ler este texto, não fiques a pensar que com isto estamos a dizer que não deves aprofundar as tuas competências e investir na tua formação. O Relatório deixa claro que apesar de tudo, nomeadamente desta perda na última década, em Portugal um trabalhador licenciado tem um ganho salarial de 50% em comparação com um que tem apenas o secundário. E esta diferença passa para os 59% para quem tem mestrado. E há ainda “Os prémios salariais, que também se verificam nos jovens adultos (dos 25 aos 34 anos) e são os mestrados que conferem um retorno salarial superior, com ganhos de 43% face ao ensino secundário e de 15% face às licenciaturas”. O Relatório revela até que as perspetivas de estarem entre os 40% da população com maior rendimento aumenta em 50%” para os licenciados.