37. Eu não percebo esta agitação toda à volta da saída do Parlamento de três deputados do Partido Comunista Português. E não percebo também os argumentos de quem diz (por exemplo a deputada Luís Mesquita – eleita supra-numerário) de que os mandatos não são dos partidos mas dos deputados. “Foi eleita pelo povo não foi pelos burocratas ortodoxos do PCP”, já li eu.
Mas afinal de quem são os mandatos?
O povo (para não deixar a linguagem) vota num partido político, ao contrário do que se passa numa serie de países civilizados (nomedamente o Reino Unido – se bem que no post 36., parece que segundo o “The Economist” perdeu o posto) em que os deputados são eleitos uninominalmente. Naquele sagrado momento em que o eleitor está na cabine de voto a determinar a sua opção, é num partido que vota, não é na pessoa em especial. Mesmo que a sua escolha recaia por causa da pessoa, ele objectivamente está a votar num partido. Ou seja, o mandato é da pessoa.
Em Portugal ainda há, na alma de muitos que deviam ser dos mais esclarecidos, a ideia que “se vota para primeiro-ministro”… o que é absurdo. Em cada distrito votamos na lista do círculo eleitoral e não para o nacional… Alguém sabe hoje(de entre os não militantes fundamentalistas) quem eram os cabeças de lista dos maiores partidos políticos em duas ou três das últimas legislativas? Não. E muito menos quem ia em segundo ou em terceiro, ou em quarto. E assim se elegem tantos energumenos que sabe Deus… escondidinhos numa lista fechada…
Os mandatos são dos partidos sim senhor!
E mesmo em termos municipais, os mandatos são dos partidos. Se há um vereador que se porta mal, se o partido achar que ele não merece a confiança política, ele deve demitir-se. Tem essa obrigação. Pode achar-se que o carisma de um presidente de Câmara é mais importante que o valor do partido. Eu por acaso também acho isso. Mas nenhum vereador poderá dizer que o povo o colocou ali e que não é um directório partidário que o tira dali! O povo vota numa lista fechada, não vota individualmente. Este tipo de frase, por exemplo, vindo de um eleito, é para mim, aberrante. Fico com a sensação que o eleito acha que na tomada de posse recebeu alguma unção divina atribuída pelo povo.
Outra aberração é alguém dizer: “O povo decidiu dar maioria absoluta a Sócrates…” A maior parte do povo escolheu o PS, é verdade, mas no boletim de voto não estava escrito: Opção A – Sócrates sem maioria, Opção B – Sócrates com maioria relativa, Opção C – Sócrates com maioria absoluta.
Valerá a pena estar com esta conversa? Claro que sim. Durante quanto tempo andaremos nós a fingir que somos democratas, se grande parte das pessoas não consegue sequer saber quais as consequências directas do seu voto, ou sequer em quem está a votar?
Há oito dias Luísa Mesquita era uma PCP, agora, para a opinião publicada já é uma reformista vitima do marxismo-leninismo ortodoxo de Jerónimo… O 25 de Novembro é amanhã, mas não abusemos…