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Em homenagem ao jornalismo nacional aqui cito algumas ideias que me parecem muito interessantes e “que eu não escreveria melhor”.

“A ‘boa’ notícia é a que dá conta da insatisfação, enquanto que os ‘bons’ exemplos, os factos ou as atitudes que podem ser inspiradoras, são encarados com displicência, ou até desprezo. Isso acontece entre os jornalistas: se algum sugere uma reportagem sobre um ‘bom exemplo’, vislumbram-se de imediato um franzir de sobrolho, um reclinar na cadeira como quem diz: ‘o que terá este na manga’. Mas esta desconfiança tem igual paralelo na opinião pública, nos consumidores de informação: se este jornal ou este noticiário, me diz que isto é bom… é provável que tenha segundas intenções. Se, pelo contrário, mantiver o tom crítico, será aceite como independente”. O autor deste texto é José Alberto Carvalho, jornalista e pivot da RTP. O texto chama-se “Discussões e «bons exemplos»”, foi publicado na rúbrica Quem TV na revista Única, do Expresso, na edição de 30.12.06 e acrescenta ainda: “O jornalismo, acredito assume-se como espelho e reflexo da sociedade”.

Também na revista Única, mas de 13.01.2007, na crónica “Pluma Caprichosa” de Clara Ferreira Alves o momento actual do jornalismo volta a ser tema. Aconselho vivamente a leitura deste texto e retiro algumas frases, sem rigor de contextualização: “Notícias jonalísticas dizem que a BBC procura um novo director por anúncio”. Mais à frente continua: “O social, destinos, moda, espectáculo, desporto e informação geral serão os temas em destaque em cada edição (do novo semanário gratuito ‘Conversas de Café’) ‘Conversas de café terá uma tiragem de 50 mil exemplares que cumprem ‘requisitos de optimismo’. Fim de citação. E fim de jornalismo. Esta é uma das grandes anedotas do jornalismo contemporâneo, o qual, convenientemente demitido e desinvestido na missão de informar, investigar, pagar, desinvestido da sua responsabilidade, não percebeu que estava a perder poder e influência, sendo sugado pelos blogues, tabloides, televeisão e net. Nasce o jornal gratuito (com a missão de levaràs pessoas o lado bom da vida, deixando de lado a actualidade das guerras e tristeza, como diz o editor Adriano Ribeiro) com notícias optimistas e nasce o jornalista-cidadão, também ele inteiramente gratuito, armado com o seu telemóvel e a sua imagem instantânea, sem tratamento nem edição”.

A visão pessimista de Clara Ferreira Alves vai mais longe: ” Hoje, os jornalistas, e a sua vulnerabilidade económica e profissional, são presas fáceis dos ‘compradores de almas’ e estão sujeitos a pressões inimagináveis no meu tempo. Para se ser jornalisticamente independente, li eu num blogue e é verdade, é preciso ser-se rico. Também é preciso ser-se sério, devia acrescentar”.

Na revista Sábado, a crónica de José Pacheco Pereira, “A lagartixa e o jacaré” tem dois textos muito interessantes sobre esta matéria: “Tomadas de posição dos media” sobre os jornais e rádios que ao estilo americano assumiram uma posição, no caso sobre o aborto, e “Nada” um texto sobre a caricatura que se pode ver aqui.

Não vale a pena fazer comentários. As palavras de jornalistas dizem tudo.

Hoje é dia de São Francisco de Sales, o mesmo é dizer que é o dia do patrono dos jornalistas e escritores.