O fio dos dias, com as suas solenidades, efemérides, aniversários, deve interpelar-nos e tornar diferente o nosso quotidiano. Falo de solenidades religiosas, políticas, institucionais… de qualquer natureza. Se laicamente entendemos dever folgar e guardar para descanso os feriados religiosos, devemos, no mínimo, compreendê-los e, se for caso disso, respeitá-los.
Começa hoje, para os católicos, a Semana Santa, a semana maior do cristianismo. Espero ter oportunidade de aqui poder viver esses dias, sem paixão, nem fanatismos, acreditando pura e simplesmente que se não tenho vergonha de assumir que sou católico, também não devo ter pudor em analisar criticamente aquilo em que acredito. Poderá chocar alguns? Os que acreditam não ficarão chocados, os fanáticos, certamente, os que não acreditam, limitar-se-ão a ver outros postes ou a voltar de hoje a oito dias!
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Hoje é Domingo de Ramos, o inicio da Semana Santa, o dia em que se evoca a entrada de Cristo em Jerusalém. O texto que se segue não faz parte da liturgia de hoje mas é o relato mais perfeito do que evocamos hoje.
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(Evangelho Lc 19, 28-40 – A entrada de Jesus em Jerusalém, como Messias, é o anúncio e a figura da Ressurreição e, ao mesmo tempo, o anúncio da Vinda gloriosa do Senhor no fim dos tempos, para introduzir na Jerusalém do alto todos os que O seguiram na caminhada da vida.)
Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, Jesus seguia à frente dos seus discípulos, subindo para Jerusalém. Quando Se aproximou de Betfagé e de Betânia, perto do monte das Oliveiras, enviou dois discípulos e disse-lhes: «Ide à povoação que está em frente e, ao entrardes nela, encontrareis um jumentinho preso, que ainda ninguém montou. Soltai-o e trazei-o. Se alguém perguntar porque o soltais, respondereis: ‘O Senhor precisa dele’». Os enviados partiram e encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito. Quando estavam a soltar o jumentinho, os donos perguntaram: «Porque soltais o jumentinho?». Eles responderam: «O Senhor precisa dele».Então levaram-no a Jesus e, lançando as capas sobre o jumentinho, fizeram montar Jesus. Enquanto Jesus caminhava, o povo estendia as suas capas no caminho. Estando já próximo da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos começou a louvar alegremente a Deus em alta voz por todos os milagres que tinham visto, dizendo: «Bendito o Rei que vem em nome do Senhor. Paz no Céu e glória nas alturas!». Alguns fariseus disseram a Jesus, do meio da multidão: «Mestre, repreende os teus discípulos». Mas Jesus respondeu: «Eu vos digo: se eles se calarem, clamarão as pedras».
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Jesus entrou em Jerusalem da maneira que as profecias diziam que entraria o Salvador. A sua entrada em apogeu, montado num burro e com ramos de palmeiras a saudá-lo não foi uma coisa que aconteceu por acaso. Neste texto percebe-se que, de alguma maneira, as coisas estavam preparadas para assim acontecerem. Ensaiadas? Este momento e a própria semana lembram-nos que Jesus estava preparado para morrer. Sabia que ia ser assim, e que daqui para a frente não tinha volta a dar… Jesus era um homem, como outro qualquer – acredito eu. Terá entrado em Jerusalem com medo, mas com um plano, com tudo preparado e organizado. Não me choca portanto que nesta fase já tivesse conversado com Judas sobre a maneira como seria capturado. Já teria pensado na maneira como reagiriam os principes dos sacerdotes, o sinédrio e os romanos quando soubessem que estava em Jerusalem. Nada o apanharia de surpresa. Mas vacilaria, teria dúvidas… afinal ele, desde o momento que nascera, era um homem. Um homem especial com uma missão especial.