Estive de férias. Aproveitei estes dias, e uns afazeres familiares, para ir passar uns dias a Medelim, uma aldeia no concelho de Idanha-a-Nova que, a par da Orca e da Bemposta e de um outra aldeia que agora não lembro o nome, mas que fica na região, é a pátria dos Canilhos. Os meus avós e o meu pai são de lá naturais e, a bem dizer, posso dizer que também sou de lá…
Mesmo sendo um sernadelense de gema (e um melhadense também) desde os três meses que lá fazia a minha época estival. (Num desses verões, diz-me a minha avó que teria um quatro anos, quando os meus pais me foram buscar dirigi-me à minha mãe e tratei-a por vossemecê, como é tradição na zona. Ela ficou chocada.)
Gosto imenso daquela região. Para além das brincadeiras com os primos e com as primas (que são mais afastadas que sei lá o quê), passei a grande maioria das tardes de verão da minha vida ali, nomeadamente a ouvir histórias da família e a apreciar o largo conjunto de alcunhas que aquela aldeia tem. A sensação que dá é que ninguém tem apelidos, todos têm alcunhas. Como o meu bisavô, da parte do meu avô, que negociava o volfrâmio que alimentou a II Grande Guerra, tinha a alcunha de ‘Mainada’, o meu avô era o Tó’Mainada… Da parte da minha avó o meu bisavó era pedreiro e por isso também lhe chamavam o ‘Calibarro’… com o tempo passou a ser só o sr. Aurélio e a minha avó é, ainda hoje, a Alice-do-Aurélio… mesmo que o Aurélio tenha morrido há mais de trinta anos.
Mas nem é na minha família que as alcunhas são mais giras. Tive um tio que era o ‘General’, apesar de não ter mais que um metro e cinquenta. Perto da nossa casa estava o palheiro do ‘Ovelha-doida’, só para dar alguns exemplos.
Aprendi com os verões da minha infância (em 27 anos só falhei três vezes), a conhecer Idanha-a-Velha, Monsanto, Penha Garcia como as palmas da minha mão… É uma zona fantástica. É (também) a minha terra. E a todos aconselho uma visita.
Mas dizia eu que aproveitei para ir para lá passar estes dias da Páscoa. Aproveitei os mimos todos da minha avó e da família e volto recauchutado, pronto para mais uns meses de adrenalina, e de loucura a trabalhar.
Durante estes dias lembrei-me muito do meu avô, que faleceu em Setembro, por estar na casa dele e tudo ter a marca dele. Os meus tios, todos com mais de 70 anos abeiraram-se de mim e, nos intervalos da minha leitura do ‘Equador’, quiseram saber como é que ia a política, o que achava eu do Sócrates e da sua licenciatura e só perante o lamento de que andava tudo mau é que eles se mostravam felizes com a desgraça colectiva de que comungavam. Fui também ver a irmã mais velha da minha avó que está em Monsanto num lar. Sofre de Alzheimer. Reconheceu a irmã mas pouco mais… mas quando lhe disse que era dia da Senhora da Graça, ainda disse três rimas… Como é extraordinariamente estranha a mente humana! Houve tempo nesta minhas mini-férias de pensar e conversar sobre o que é que a nossa geração tem para oferecer aos idosos em fim de linha. Hoje pude conversar sobre isso, já na Mealhada.
Choca-me ver os velhos no lar… à espera da morte.