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Mealhada, capital do escutismo?
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O movimento escutista no concelho da Mealhada tem já história digna de referência. Estará já perto da casa dos milhares o número de pessoas, naturais do concelho da Mealhada, ou nele residentes, que passaram, em dado momento do seu percurso de formação pessoal, pelos agrupamentos de escuteiros existentes na área do município, desde há cerca de trinta anos. É uma história de perseverança e sucesso que culmina, agora, com a formação, junto dos escuteiros de todo o país, da imagem desta região como sendo acolhedora para os escuteiros, ideal para a realização das suas actividades de ar livre e dotada de todas as características para a vivência perfeita dos ideais escutistas.
No concelho da Mealhada, nesta altura, o agrupamento de escuteiros mais antigo é o de Casal Comba. Um grupo pujante, com a adesão de grande número de crianças e jovens. Estarão criadas as condições para garantir que o futuro seja cheio da mesma perseverança que caracterizou o agrupamento no passado. Um passado em que construiu uma sede própria, a pulso, aberta à comunidade, que deve ser motivo de orgulho para toda a freguesia. Seguem-se, pela antiguidade, os agrupamentos da Pampilhosa e de Barcouço. O primeiro é um agrupamento bem consolidado, com o espírito de dedicação ao próximo enraizado e detentor de um forte sentido de serviço cívico. O agrupamento de Barcouço é um bom exemplo da perenidade dos valores escutistas, da resistência do escutismo face a outros apelos provavelmente menos proveitosos. O grupo dos escuteiros da Mealhada é o mais recente, apesar de ter sido nesta freguesia que, na década de setenta do século passado, nasceu o primeiro grupo do concelho. Grupo que acabou por não perdurar, como não perdurou o agrupamento de escuteiros de Ventosa do Bairro.
Os quatro grupos existentes têm características que os diferenciam uns dos outros, reflectem as especificidades das comunidades onde estão implantados e têm demonstrado viver em conformidade com os ideais escutistas, em partilha, em fraternidade. Os dirigentes dos agrupamentos do concelho da Mealhada têm mostrado estar unidos pelo mesmo ideal e, em vários momentos, têm-se mostrado disponíveis para trabalhar em conjunto e assumir responsabilidades no movimento escutista ao nível regional e nacional.
O escutismo no concelho da Mealhada encontra-se agora numa segunda fase da sua existência. Depois da implantação na juventude local, vive um momento em que procura abrir-se ao resto da comunidade escutista nacional e internacional e serve de plataforma, como porto de abrigo, para a vivência escutista de jovens de outras proveniências.
O concelho da Mealhada está localizado numa zona central do território nacional continental, perto do mar e perto da serra, e está bem servido de transportes. Reúne todas as condições para ser acolhedor. A somar a estes atributos está a Serra e a Mata Nacional do Buçaco e a publicidade que dela e das suas belezas fazem os escuteiros que a vêem todos os dias. Em consequência, o número dos grupos de escuteiros que têm realizado actividades na área deste município tem aumentado significativamente nos últimos meses. Poderão contabilizar-se em muitas centenas os escuteiros, portugueses e estrangeiros, que, desde Setembro de 2007, por exemplo, realizaram actividades no concelho da Mealhada. As sedes dos agrupamentos de Casal Comba e da Pampilhosa, os campos da Vera Cruz e do Vale do Sobreiro, junto do Pego, propriedades dos agrupamentos da Pampilhosa e da Mealhada, respectivamente, têm contribuído significativamente para o referido aumento.
O acolhimento, feito por escuteiros a escuteiros, resulta da vivência dos princípios de vida que o escutismo promove. Hoje, no concelho da Mealhada, são já muitas as entidades que têm colaborado no acolhimento feito aos escuteiros que visitam o município. A Associação Recreativa e Cultural ‘Os Amigos do Pego’, o Grupo de Santa Cristina e a Associação Jovens Cristãos de Luso, por exemplo, têm sido inexcedíveis na cedência graciosa de instalações. Espaços que, quase semanalmente, lhes têm sido solicitados para acolhimento de escuteiros vindos de fora. Estes são bons exemplos de parceria entre as associações. Parceria que ajuda a construir, com benefícios de interesse colectivo, uma imagem do concelho da Mealhada como terra de hospitaleira. Os escuteiros de outras paragens que visitam o município consomem bens e serviços no território municipal. Para além disso, nas suas casas, nas suas comunidades, darão conta da boa imagem que daqui levam, transmitirão aos seus familiares a vontade de regressar, provavelmente.
O edifício da extinta Escola Básica 1 da Quinta do Valongo é, desde o início do ano de 2008, a sede de um núcleo do Corpo Nacional de Escutas, o Núcleo Centro-Norte da Região de Coimbra. Esse núcleo congrega os agrupamentos dos concelhos de Mortágua, de Penacova e da Mealhada e da parte do concelho de Coimbra situada a norte do Rio Mondego. No domingo, 24 de Fevereiro, reuniram-se, naquele local, quatrocentos escuteiros. Voltarão, certamente. A Câmara Municipal da Mealhada cedeu as instalações, certa de que — acreditamos — o local poderá ser um foco de dinamização da população da Quinta do Valongo e da zona envolvente.
Apostados em demonstrar que o desenvolvimento do concelho da Mealhada se efectuará, em larga medida, pela capacidade de atrair mais pessoas, Câmara Municipal, agentes económicos, associações e agrupamentos de escuteiros e outras entidades têm agora uma oportunidade para dar as mãos e para criar pontes no sentido de melhorar, cada vez mais, o acolhimento que poderá fazer-se às centenas de jovens que visitam o município regularmente. A par do turismo gastronómico, do turismo histórico, do turismo religioso e do turismo desportivo, já em desenvolvimento neste concelho, estão dar-se passos para, quase sem esforço, o concelho da Mealhada vir a ser uma referência no campo do turismo de aventura e da vivência escutista.
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Editorial do Jornal da Mealhada de 27 de Fevereiro de 2008
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Voz do Leitor

Em 1935 já havia escuteiros na Pampilhosa

Ao ler o Jornal da Mealhada de 27 de Fevereiro de 2008 verifiquei que continha uma informação menos correcta acerca da existência, em outros tempos, de agrupamentos de escuteiros no concelho da Mealhada.
Era referido, no Editorial, que nos anos setenta, do século passado, teria existido um agrupamento na Mealhada. Isso corresponde à verdade. Não é verdade, no entanto, que se trate do primeiro grupo de escuteiros do concelho da Mealhada. Talvez devido à tenra idade e falta de conhecimento não saberá, mas eu informo-o que nos anos trinta, também do século passado, existiu na Pampilhosa um agrupamento de escuteiros. Desse agrupamento existem ainda vivos pelos menos dois elementos, ambos com mais de oitenta anos.
Estes elementos são os senhores Joaquim da Costa Andrade e José Marques. Foi chefe de ambos o padre David Marques. Sabe-se, por exemplo, que o primeiro acampamento se realizou em 1935, nos terrenos onde hoje está instalada a escola EB 2,3 da Pampilhosa.
O agrupamento de escuteiros da Pampilhosa tem em seu poder o primeiro regulamento do Corpo Nacional de Escutas, editado em Braga, com o Grande Uivo manuscrito por Francisco Teixeira, entretanto falecido, a quem foi ditado e que o doou ao agrupamento.
Penso ter-me achado útil neste breve esclarecimento.
Sempre Alerta Para Servir
Mário José de Sousa Gaspar, antigo dirigente do CNE.