impressao_digitalPISTAS PARA UMA REFLEXÃO SOBRE O NOVO PAPEL DA ESCOLA

Há, efectivamente, um novo papel a desempenhar pela Escola na vida das comunidades e na vida das crianças e jovens para quem a escola é a primeira destinatária. Um novo papel que não nasce de uma corrente ideológica, mas de uma necessidade que as circunstâncias impõe, hoje mais do que nunca. Não falo apenas da Escola onde trabalho, mas da Escola universalmente considerada.

O papel da Escola é, na minha opinião – sublinhe-se, e não sou nenhum estudioso na matéria – o de Transformar. Transformar no sentido de ‘dar uma nova forma’, de promover uma alteração profunda nos jovens no sentido de lhes proporcionar ferramentas – conhecimentos, competências e atitudes – que eles, em autonomia, possam aplicar na sua vida quotidiana, no futuro, no sentido de atingir um grau de satisfação que poderíamos considerar como ‘felicidade’.

Há muitos anos, no período da III República, dizia-se que a Nova Escola tinha de ser Democrática. Tinha de ser de todos – tinha de acolher todos os alunos, independente da classe social ou proveniência e tinha de funcionar através de procedimentos segundo o método democrático.

Depois, mais tarde, dizia-se que a Nova Escola tinha de estar aberta à comunidade. Tinha de receber inputs das empresas, das autarquias, da sociedade civil para poder cumprir a sua missão. E esse passo – com velocidades diferentes foi, genericamente, dado -.

 

Mais recentemente dizia-se que a Nova Escola tinha de ter um maior envolvimento dos pais no quotidiano da relação educativa vista de maneira mais global.

Procurando distanciar-me das recentes polémicas vindas a lume com as medidas mais recentes do ministro Brandão Rodrigues sobre a avaliação externa dos alunos, vulgo exames – poderá ficar para outra oportunidade. Parece-me que hoje, na minha opinião, a Nova Escola tem de ser um espaço de humanidade. Dizia um filosofo – não sei dizer quem – que a casa era o território da humanidade (não no sentido de substantivo colectivo, mas como característica do que é humano). Na falência da casa como espaço da humanidade, a escola, a Nova Escola tem de ser esse espaço.

Isto pode parecer estapafúrdio de ser dito por um diretor de uma escola – a quem cumpre gerir um espaço de formação da forma mais sustentável possível -, mas a verdade é que a Nova Escola, perante uma realidade onde parece que mais nenhum modelo existe, tem de ser o espaço dos afectos, a atenção, da motivação, do encorajamento, da valorização do ser humano. Voltamos (porque já foi assim noutros tempos) a uma altura em que os educadores – não só os professores, mas também os funcionários e os alunos – têm de voltar a estar atentos a quem não tem comer em casa, a quem não tem casa, a quem não tem roupa em condições, a quem não tem carinho, a quem não tem no seu quotidiano gestos de amor, a quem não sabe o que é a experiência do afecto…

A Nova Escola preocupa-se quando dos alunos faltam às aulas. Preocupa-se com os alunos que mostram que não dormem, ou não comem. Está atenta aos que não conseguem gerir frustrações, derrotas ou vitórias. Está lá para os que recorrem a drogas ou ao alcool. Censura, mas apoia. Repreende, mas ajuda. Castiga, mas dá oportunidades.

Está atenta e preocupa-se!

Muitas vezes, nesta Nova Escola, os educadores não têm a parceria dos pais, que não admitem a ingerência, uma quase desautorização, uma espécie de substituição inadmissível. É preciso resistência e resiliência. A Nova Escola não é uma escolha, é uma imposição da realidade. Muitas vezes, nesta Nova Escola, os educadores não têm o apoio dos pais, que recorrem à formalidade dos procedimentos (à grelha que devia existir ou ao critério que não está claro), à exigência de medidas punitivas (geralmente para com os filhos dos outros) para satisfazer uma quase necessidade de resultados… o que na linguagem corrente quererá dizer sangue! “A Escola não fez nada!”, dizem, porque não houve expulsão, nem chibatadas no átrio para humilhação colectiva.

A Nova Escola é menos colorida, é mais fria, porque a realidade existe e é notória, é quotidiana. A realidade não é maquilhada num mundo bonito onde todos são felizes e cantam passarinhos a cada momento. A Nova Escola é mais sincera, é mais comprometida, porque a Nova Escola assume (ou deve assumir) a máxima do ‘Ubuntu‘  de que eu sou feliz quando tu estás feliz, de que eu sou porque tu és, de que a humanidade de uns está intima e intrinsecamente ligada à humanidade de todos.

Esta é a Nova Escola, a que trans-forma integralmente!