A Igreja Portuguesa

Já vai sendo hábito haver quem diga que, apesar de católico, não acredita na Igreja. Eu não critico quem pensa assim, apesar de, eu, pensar diferente. Quando recito o credo, não me calo quando os outros dizem ‘Creio na Igreja, Una, Santa, Católica e Apostólica’. E não o faço porque, considerando-me católico, considero-me parte da Igreja e não um outsider, um observador externo. Eu sou parte da Igreja.
O facto de ser parte da Igreja – pedra viva no templo do Senhor – dá-me autoridade para poder analisar criticamente a postura da hierarquia perante os problemas da vida das pessoas – na saúde, na sexualidade, nos costumes -, perante os próprios problemas e deficiências da própria Igreja e, por maioria de razão, da própria hierarquia.
Considerar-me parte da Igreja não me inibe de pensar pela minha própria cabeça, antes pelo contrário. É minha obrigação fazê-lo. E procuro fazê-lo, nos fóruns próprios e, acima de tudo, pelo meu testemunho.
Os defeitos da Igreja vão muito para além da discrepância entre um discurso de solidariedade e caridade e as roupas do Papa, a riqueza dos paramentos, ou o valor económico da arte sacra, das obras de arte do Vaticano, ou o valor imobiliário das propriedades da Igreja. Isso é apenas a espuma que flutua. A intervenção do Papa hoje, aos religiosos portugueses, aos consagrados, e já ontem antes de aterrar em Portugal, mostra que o Papa tem noção exacta dessas deficiências e do que é preciso fazer para que a Igreja se torne melhor servidora da maior criação divina: o Homem!
A intervenção do Papa, hoje, exigindo aos consagrados “Fidelidade à sua vocação”, de certa forma, tranquiliza-me. Como me tranquiliza saber que Bento XVI exigiu “coragem e confiança”, e pediu “particular atenção” ao “esmorecimento dos ideias sacerdotais” ou a “actividades” discordantes do “que é próprio” para os padres. Isto, como leigo, tranquiliza-me.
Como me tranquilizaria saber que a Igreja Portuguesa vai promover uma reforma grande na gestão territorial, na gestão de recursos, na optimização do trabalho pastoral, na explicação aos crentes das tarefas que são feitas por consagrados e das que podem ser feitas por leigos, na valorização social do sacerdote na vida das comunidades.
Mas já me tranquiliza hoje saber que a Igreja Portuguesa tem ao seu serviço um Dom Januário Torgal Ferreira – um homem com “os tomates no sítio”, um bispo corajoso capaz de dizer as verdades olhos nos olhos -, um Dom Manuel Clemente – um homem culto, sábio, um intelectual reputado e reconhecido -, um Dom Carlos Azevedo – um homem de seriedade, de acção, de trabalho, de concretização e energia. Haverá em Portugal outros prelados que os focos das câmaras ainda me não apresentaram, mas estes fazem-me crer que é a Igreja Portuguesa é forte, é corajosa, é capaz, é presente, é testemunho.
E assim, sinto-me mais tranquilo para considerar que os portugueses têm (continuam a ter) um porto de abrigo garantido para os tempos que aí vêm!