Hoje é, para os católicos, dia da solenidade do Corpo e Sangue de Cristo,
vulgarmente conhecido como Dia do Corpo de Deus.
Eu prefiro a denominação original, a latina, Corpus Christi.
Esta solenidade – preceito obrigatório para todos os católicos – celebra a presença real e substancial de Cristo na Eucaristia.
Ou seja, dito de outra forma (vamos lá ver se eu consigo), nas igrejas Católica, Ortodoxa e Anglicana, existe o dogma (uma verdade indiscutível) de que através da repetição das palavras de Cristo na Última Ceia o pão e o vinho (na forma da hóstia e do vinho) se transformam em Corpo e Sangue de Cristo. Este fenómeno chama-se Transubstanciação – as substâncias pão e vinho transformam-se, realmente, em Corpo e Sangue.
Outras igrejas cristãs, protestantes, consideram que o fenónemo que ocorre é o da Consubstanciação – que as substâncias pão e vinho passam a ter consigo, numa dimensão meramente espiritual, o Corpo e o Sangue de Cristo.
Acredito que para a maior parte dos católicos isto seja perfeitamente irrelevante, e que, provavelmente, nem sequer possuem esta informação que, se conhecida, permitirá descodificar e perceber uma série de comportamentos e gestos litúrgicos.
Esta solenidade tem lugar 60 dias depois da Páscoa – 20 dias depois da Ascensão e na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, o que sucede ao de Pentecostes.
O Cânone 944 do Código do Direito Canónico recomenda que se faça neste dia procissão pelas vias públicas das localidades “para testemunhar publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo.” É recomendado, também, que nestas datas, a não ser por causa grave e urgente, não se ausente da diocese o Bispo (cân. 395).
Em Portugal, a procissão do Corpus Christi é antiquíssima. Há registo de que já no tempo do rei Afonso III ela se realizava. No entanto, há a informação de que tenha passado a ser obrigatória em 1282, por ordem de D.Dinis.
Esta procissão está associada a outras personalidades da nossa história.
Gil Vicente, o nosso primeiro dramaturgo terá sido o ourives da grandiosa custódia de Belém. A custódia é uma peça onde é colocado e transportado o Corpo de Cristo, dentro de uma superficie em vidro transparente, para veneração.
Luís de Camões, por exemplo, algures entre 1550 e 1553, decidiu, numa procissão do Corpus Christi, ferir com uma espada Gonçalo Borges, mancebo do Paço. Este gesto foi meio caminho andado para pôr o nosso poeta maior em problemas culminando com a sua ida para a India.