Exmo. Sr. Ministro das Finanças,

Prossigo, na medida das minhas possibilidades e conhecimentos, e cheio de fervor patriótico, na prossecução da resposta à exortação de Vossa Excelência aos portugueses para lhe “dizerem” onde é que ainda se podia cortar na despesa do Estado.
Uma vez mais, recorro à minha condição de português que paga impostos, que cumpre com as suas obrigações cívicas, sociais e políticas (longe das campanhas eleitorais e dos fantasmas que elas provocam nos que, aparentemente, sentem o chão a ruir), para, por este meio, dar o meu contributo para esta causa patriótica e informá-lo, com a humildade com que um burro da Mealhada – repito que também aqui os há, e dos bons (até os exportamos para o norte) – se dirige a um doutorado em Finanças (ou vice-versa), das oportunidades que se lhe deparam a si, que governa, para cortar na despesa.

E que tal começar pelos 3.706.630 euros mensais de salários que auferem os 20 senhores, abaixo elencados, fieis servidores do Estado em instituições e empresas públicas?


Ora, sendo certo que o salário do Senhor Presidente da República, o mais alto magistrado da Nação, rondará os 10 mil euros mensais, não considera Vossa Excelência que será exagerado um servidor público ganhar 42 vezes mais, como o Dr.Fernando Pinto, ou até mesmo 6 vezes mais, como a Dr.ª Fernanda Meneses?
É certo que são funcionários de institutos da administração autonoma do Estado, e de empresas público-privadas, mas, não sendo funcionários públicos são servidores do Estado. Poderão dizer alguns que se trata de pessoas hiper-qualificadas que desempenham relevantes funções e que se não forem bem pagas sairão para o sector privado e o Estado ficará apenas com os restos. Podem dizê-lo, mas, tanto Vossa Excelência, que é doutor em Finanças, como um burro como eu, sabemos que isso não é verdade.
E eu até sou solidário com a sua proposta – em Janeiro de 2010 – de reduzir o seu próprio salário se a situação económica não melhorasse, atrevo-me a indagar: Se estes 20 senhores auferissem tanto (imagine Vossa Excelência quanta honra) como o Senhor Presidente da República, estas empresas e instituições precisariam de tanto dinheiro dos cofres do Estado? Seguramente que não – atrevo-me a responder, logo, Vossa Excelência – só com estes 20 – pouparia 3,5 milhões de euros por mês (49 milhões de poupança em cada ano). Convirá Vossa Excelência que é maquia significativa. Renovo o meu intento de – assim me ajude o engenho e a arte – continuar a responder ao seu desafio patriótico e, assim, ajudar Vossa Excelência a cumprir com a sua missão.
Uma vez mais declaro (por que há quem diga na minha terra exportadora de burros que “a inveja é como uma unha encravada”) que prescindo, desde já, de qualquer remuneração que Vossa Excelência possa querer auferir-me, na certeza, porém, de que o meu desejo de retribuição passa pela concretização da demissão do chefe do Governo, podendo Vossa Excelência – apesar de tudo – ocupar a presidência do Conselho de Ministros até à realização de eleições. Não me parece que seja, para vós e para a Nação, grande sacrificio. Com os melhores cumprimentos
Nuno Canilho