Bolinhos e bolinhós

A primeira vez que eu vi esta coisa dos ‘Bolinhos e bolinhós’ foi em Coimbra, ali à volta do 31 de Outubro, algures entre as Amarelas e o Moçambique – essa saudosa casa de jogos onde hoje se come uma pizza fantástica da Diana e do Ovelha. Eram uns putos com umas caixas de papelão recortada com uma carantonha com uma vela lá dentro… Nunca achei grande piada áquilo… Os miudos pediam moedas ou doces, não sei bem.
No outro dia, enquanto investigava na wikipédia – será possível? – por causa da tradição dos ‘Fiéis Defuntos’ descobri que essa tradição dos ‘bolinhos e bolinhós’ apesar de menos popular é mais antiga do que o Halloween que a tradição anglo-saxónica e o espirito consumista nos fez exultar.
Aqui está o que pude ler, a fonte vale o que vale:
«Em Portugal, no dia de Todos-os-Santos as crianças saem à rua e juntam-se em pequenos bandos para pedir o pão-por-deus de porta em porta. As crianças quando pedem o pão-por-deus recitam versos e recebem como oferenda: pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, amêndoas ou castanhas, que colocam dentro dos seus sacos de pano. É também costume em algumas regiões os padrinhos oferecerem um bolo, o Santoro. Em algumas povoações chama-se a este dia o ‘Dia dos Bolinhos’. Esta tradição teve origem em Lisboa em 1756 (precisamente um ano depois do terramoto que destruiu Lisboa). Em 1 de Novembro de 1755 ocorreu o terramoto que destruiu Lisboa, no qual morreram milhares de pessoas e a população da cidade, que era na sua maioria pobre, ainda mais pobre ficou. Como a data do terramoto coincidiu com uma data com significado religioso (1 de Novembro), de forma espontânea, no dia em que se cumpria o primeiro aniversário do terramoto, a população aproveitou a solenidade do dia para desencadear, por toda a cidade, um peditório, com a intenção de minorar a situação paupérrima em que ficaram. As pessoas, percorriam a cidade, batiam às portas e pediam que lhes fosse dada qualquer esmola, mesmo que fosse pão, dado grassar a fome pela cidade. E as pessoas pediam: “Pão por Deus”. Esta tradição perpetuou-se no tempo, sendo sempre comemorada neste dia e tendo-se propagado gradualmente a todo o país. Até meados do séc. XX, o “Pão-por-Deus” era uma comemoração que minorava as necessidades básicas das pessoas mais pobres (principalmente na região de Lisboa). Noutras zonas do país, foram surgindo variações na forma e no nome da comemoração. A designação indicada acima (Dia dos Bolinhos) em Lisboa nunca foi utilizada, nem era sequer conhecido este nome. Nas décadas de 60 e 70 do séc. XX, a data passou a ser comemorada, mais de forma lúdica, do que pelas razões que criaram a tradição e havia regras básicas, que eram escrupulosamente cumpridas: – Só podiam andar a pedir o “Pão-por-Deus”, crianças até aos 10 anos de idade (com idades superiores as pessoas recusavam-se a dar). – As crianças só podiam andar na rua a pedir o “Pão-por-Deus” até ao meio-dia (depois do meio-dia, se alguma criança batesse a uma porta, levava um “raspanete”, do adulto que abrisse a porta). A partir dos anos 80 a tradição foi gradualmente desaparecendo e, actualmente, raras são as pessoas que se lembram desta tradição.»