Os mandatos politicos dos parlamentares americanos – Senadores e Representantes – não começam e terminam todos ao mesmo tempo. São todos de quatro anos, mas desfasados dois anos. Ou seja, de dois em dois anos há eleições e as maiorias podem mudar com a substituição de metade dos lugares. Quando há, também, a eleição do Presidente da União são as ‘General Elections’, quando não há são as ‘Mid-terms Elections’. As eleições nos Estados Unidos da América decorrem à terça-feira, na primeiro terça-feira do mês de Novembro. Ontem houve eleições. Amanhã faz dois anos que Barack Obama foi eleito.
Dos resultados de ontem pode dizer-se que o estado de graça de Obama acabou. Os republicanos venceram as eleições intercalares, conquistaram a câmara baixa do Congresso – a Câmara dos Representantes – e por pouco não conseguiam garantir uma maioria no Senado. O Partido Democrata, no entanto, conseguiu manter a maioria no Senado com 51 senadores democratas, face a 47 republicanos.O mandato de Obama até aqui está, segundo alguns garantem, aquém das expectativas que os americanos formularam, e que, desde sempre, se percebeu que era exageradas. Houve problemas que não conseguiu resolver e a sensação que dá – pelo menos a nós europeus – é que a sua grande obra até agora, o Sistema Nacional de Saúde, não agradou tanto aos americanos como seria de esperar. Daqui para a frente a coisa não vai melhorar, até porque Obama vai estar condicionado pela necessária negociação que vai ter de fazer com os Representantes republicanos.Acontece que estes republicanos já não são os de John McCain, que apesar de ter Sarah Pallin como vice-presidente, era um moderado. Os republicanos, agora, têm ao seu lado o ‘Tea Party Movement’ – uma facção demagógica, populista, ultra-conservadora de contestação generalizada a impostos, ao governo federal, é anti-capitalista, isolacionista e anti-imigração, com certas franjas de apoiantes completamente lunáticas, mas genuinamente americanos e populares.

Luís Naves, no blogue Albergue Espanhol, afirma o seguinte:«A política americana deverá mudar nos próximos dois anos, embora com esta vitória mitigada seja difícil perceber para onde irá o país. A América será talvez uma nação mais impaciente e dividida; menos interventiva no mundo, apesar de não se poder dar a esse luxo; mais fechada e intolerante; mais desigual. Podemos esperar dois anos de impasse e talvez até de paralisia.
O Tea Party é também um movimento baseado num novo tipo de comunicação. Os media tradicionais deixaram de controlar a sociedade e a fragmentação criou um tipo de especialista que pode transmitir as mensagens mais alucinadas a uma audiência limitada, mas com uma força que os meios tradicionais não tinham.
As milhares de organizações locais funcionam em rede e de forma descentralizada. Parece cacofonia, mas é na realidade um mecanismo inovador, barato e altamente eficaz, embora só possa ser mantido por escasso tempo e para conseguir um determinado efeito com base numa ideia simples. Neste caso, os eleitores querem que os políticos funcionem de outra maneira, querem “mudanças em Washington”. E, não tarda muito, acho que vamos começar a ver estas ideias também por aqui, só que em vez de Washington os protestos vão referir Lisboa ou Bruxelas.»
A ver vamos…A Campanha das Mid-terms não teve o impacto e o brilhantismo da de 2008. Mas de qualquer forma está aqui um exemplo de um anuncio do Partido Democrata, apelando ao ‘Não Voto’ Republicano. Ao dar com isto lembrei-me que seria fácil os estrategas do PSD copiarem o modelo para as hipotéticas eleições legislativas da Primavera de 2011. Mas depois, dei por mim a pensar que, em Portugal, mesmo com o tom ácido com que tem sido vivida a política nacional e recitado o discurso parlamentar, provavelmente nunca o nosso pudor daria azo a este tipo de campanha. Mesmo que fosse merecida e justa!

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