Várias pessoas me perguntaram hoje, ao longo do dia, qual era a minha opinião sobre a demissão (esperada, mas na altura tão só eventual) do primeiro-ministro. Facto que me obrigou a pensar no assunto…

É óbvio que não é bom para ninguém – especialmente para o país – que o Chefe do Governo se demita antes de terminar o mandato para o qual foi investido. Resulta claro que não é bom que o Chefe do Executivo saia do leme, num momento em que o país atravessa uma crise financeira e económica muito séria. É liquido que não é positivo ter um Governo de gestão num momento em que o executivo tem previsto pôr no mercado 9,5 mil milhões de euros de dívida pública, um PEC para apresentar aos parceiros europeus até Abril e, eventualmente, pedir a intervenção do Fundo Europeu de Estabilização e do FMI.

Acontece que o Governo Sócrates e o seu primeiro-ministro davam sinais de um desgaste profundo, de uma falta de respeito total por órgãos de soberania e parceiros sociais, uma total desconsideração pelos portugueses. Ou seja, notava-se já, desde a alguns meses – não sou tão radical a ponto de dizer que desde a tomada de posse – que o Governo estava desnorteado e sem solução possível para a maior parte dos problemas do país.

Ao mesmo tempo, percebeu-se (com as declarações de alguns ministros) que Sócrates não conseguia remodelar o Governo, porque, possivelmente, não conseguiria arranjar ninguém para ocupar os lugares e trabalhar a seu lado. E este sinal é péssimo para um Governo.

A necessidade que o primeiro-ministro tinha (como têm e terão todos) de dar aos mercados sinais de confiança obrigou-o a proferir discursos de uma quase esquizofrenia, em que às segundas, quartas e sextas dizia que o país estava óptimo, com sinais de recuperação e execução orçamental notáveis, que era o campeão disto e daquilo, e às terças, quintas e sábados anunciava ao país a necessidade de mais medidas de auteridade. Ninguém aguentava mais esta bipolaridade.

A demissão de Sócrates foi, portanto uma benção. Porque neste momento, José Sócrates era parte do problema, e não parte da solução. Ou seja, qualquer outra pessoa seria capaz de convencer os portugueses e os mercados a aceitarem uma determinada medida – mesmo que dificil. Mas Sócrates já não é capaz de o fazer.
O problema não é o Governo, nem o Partido Socialista – outro primeiro-ministro deste partido fá-lo-ia, tenho a certeza. O problema é José Sócrates que já não conseguia mobilizar as pessoas, ser levado a sério.

Cavaco aceitará na sexta-feira o pedido de demissão do primeiro-ministro. Todos os partidos sugerirão que dissolva o parlamento e marque eleições. Cavaco poderia pedir ao PS que formasse novo Governo, não esqueçamos. Mas todos vão pedir eleições.
Eleições que trarão novos problemas e novas dificuldades, mas digamos que podem bem ser os dois passos que se dão atrás, para que, com um novo primeiro-ministro, possamos dar três em frente! Um novo primeiro-ministro que, eventualmente, até anunciará ao país as mesmas medidas que o parlamento agora vedou a Sócrates. Mas será outra pessoa, e isso, agora, é relevante.

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