«O difícil para cada português não é sê-lo; é compreender-se.»

, disse Marcelo, citando Torga. 

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A tradição portuguesa dita que os chefes de Estado portugueses tomem posse. A tradição americana fala em ‘inauguração’. O termo ganhará especial significado se estivermos a falar da posse de Marcelo Rebelo de Sousa, como XX Presidente da República Portuguesa, e do que todos parecem preconizar como a inauguração de uma nova era, o Marcelismo. Um novo Marcelismo? Uma nova Primavera Marcelista? Depois do Inverno do Descontentamento Pós-Cavaquista? Um Marcelismo do século XXI, uma Primavera que não é do padrinho Caetano, mas do afilhado Marcelo Nuno?

Confesso que não me encontro no coro dos que estão efusivamente entusiasmados com São Marcelo. Com ele sou mais como São Tomé… e espero para ver. Posso apreciar o estilo novo, mas não me sai da cabeça a ideia de que pode ter sido eleita a Velha Raposa para guardar as novas Galinhas…

Marcelo é um estratega, divertido e entusiasmado… o cargo que a partir de hoje passa a ocupar é de silêncios e sombras… Não combinam… à partida!

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Os primeiros gestos de Marcelo, neste dia de inaugurações, são interessantes. E a garantia de que Marcelo vai ser o Presidente do Simbólico está dada. Promete.

Começou bem!
Fez um Bom discurso de abertura. Passível de ser elogiado por todos. Histórico – porque apresentou uma forte componente de citação histórica (quem se lembraria de citar o milagre da Batalha de Ourique?). Foi Poético – inova ao citar prosa do poeta Torga -. Inaudito – porque vem a pé de casa dos pais -. Mas Breve – porque o comentador na reserva sabe o que vale um soundbyte que geralmente menos é mais -.

E vale o que vale – e para mim vale alguma coisa – ainda o Marcelo, Presidente há vinte minutos, não tinha acabado o seu discurso e já tinha mudado o site da Presidência da República. São bons sinais.

Como são bons sinais a coroa de flores no túmulo do Ilustre Gama ou a celebração ecuménica do católico (que não se volta a casar porque sabe que não pode) na Mesquita da Imperial Lisboa, Patriarca do Mundo Novo.

Espero para ver… depois do dia de hoje talvez prescinda da necessidade de ‘meter o dedo no lado’ para acreditar em Marcelo. Talvez o professor me volte a entusiasmar como o fez há 20 anos. Talvez. Para já observo. Aplaudo, ma non troppo.

Aplaudo, ma non troppo… Mas não sou sectário. Acredito na Democracia e reconheço que Marcelo é, a partir de hoje, a República. A República-comunidade (como lembra bem Maltez), não a República-regime, porque essa não se compadece com o sectarismo que hoje se viu num parlamento que aplaude os homens e não os símbolos.

O Presidente da República acaba de tomar posse, ainda não disse nada, ainda não fez nada, ainda nem sequer discursou. Para já Marcelo é só o símbolo da República, ainda não passa disso. No entanto, numa demonstração de sectarismo atroz, as bancadas do PCP, do BE e do PEV recusam-se a levantar-se para o saudar e nem sequer batem palmas.
Demonstram assim, que são SECTÁRIOS! Demonstram assim que não reconhecem a Democracia… aliás só reconhecem quando ganham!