Ontem ao fim da tarde… e depois madrugada fora, deixei-me levar pela votação da admissibilidade do ‘impeachment’ da Presidente do Brasil, ontem discutido na Câmara dos Deputados. Segui em directo, ouvi comentadores brasileiros, comentadores portugueses, fui eclético na receptação de informação. E fui seguindo os comentários, no facebook dos tugas…

Não posso deixar de tirar algumas conclusões, que aqui partilho:

  • Não tenho qualquer simpatia ideológica pelo PT, nem por Lula da Silva, nem por Dilma Roussef. Sou levado a crer, que a política do PT no Brasil, no mesmo estilo de toda a Esquerda da América Latina, é doutrinadora e segregadora na apologia da supremacia dos pobres sobre os ricos e dos negros sobre os brancos.
  • Não tenho dúvidas de que Lula da Silva está envolvido em situações de corrupção e de suborno para obtenção de regalias especiais e financeiras em benefício próprio.
  • Não me parece que haja discussão possível sobre o facto de a gestão do PT, em termos de política externa, tem procurado afirmar o Brasil como um país superior no contexto da América-Latina, financiado e apoiando os regimes políticos bolivarianos.
  • Acredito sinceramente que a maioria pobre do Brasil e afro-descendente está com o PT e com Dilma Roussef (porque foi doutrinada e recebeu benefícios como nunca tinha recebido) e que a classe média-alta e maioritariamente euro-descendente está contra Dilma e o PT.

Por outro lado, ontem fiquei esclarecido que:

  • O processo de ‘impeachment’ é exactamente um golpe. E que têm razão os PTistas quando o apelidam assim. O regime brasileiro é presidencialista (como o dos Estados Unidos) e os brasileiros quando votaram para presidente deram a Dilma uma maioria esmagadora. Por outro lado, quando votaram para o Parlamento (para a Câmara dos Deputados, nomeadamente) deram a maioria ao PSDB, que passou a controlar o Parlamento. E através do Parlamento procurou influenciar a governação. Dilma meteu ministros do PSDB no seu governo (nomeadamente dando-lhe uma vice-presidência, a Michel Temer), mas incompatibilizou-se com o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. A partir de determinada altura, quando a economia começou a dar de si, o PSDB decidiu contra-atacar e assumir o poder sem ter de ir a votos.
  • Apesar de a comparação não poder ser perfeita – porque estamos a falar de regimes diferentes, um parlamentarista e outro presidencialista – seria o mesmo que a maioria das esquerdas querer destituir o presidente Cavaco só porque a maioria do parlamento era mais recente que a maioria que o elegeu.
  • Por outro lado, com a saída de Dilma, tornar-se-á Presidente do Brasil (porque convenientemente o PSDB impediu a realização de eleições antecipadas nos acordos que fez com os outros partidos para votar o ‘impeachment’) um individuo que só não está a ser julgado em casos de corrupção porque tem a imunidade que lhe advém de ser membro do governo federal.

Do mesmo modo que fiquei revoltado com o facto de uma coligação negativa em Portugal ter derrubado um governo legitimamente eleito para formar governo com menos condições políticas do que tinha quem foi derrubado, não consigo alegrar-me com o facto de, no Brasil se estar a passar a mesma coisa.