Entrevista do Cardeal Patriarca de Lisboa, Dom Manuel Clemente, ao Observador. Publicado hoje

Porque acha que vão tantas pessoas a Fátima? Tantos milhões de pessoas, todos anos? Vão à procura de quê, à espera de quê?

Vão à procura do mesmo que levava as pessoas a irem ao encontro de Jesus, como lemos nas páginas do Evangelho. Exactamente o mesmo. Encontro ali, naquela simplicidade cristã das coisas de Fátima – e sublinho o cristão não como adjectivo apenas, mas quase como substantivo –, encontro ali, dizia eu, o que aquelas multidões encontravam à volta de Jesus.

A salvação?

O que a palavra salvação quer dizer. O que ela significa quer do ponto de vista material, quer espiritual, quer físico, quer anímico. Isso tudo o que a palavra quer significar e que tanto pode ser saúde, como realização. É isso que nos leva lá, se não formos completamente distraídos. Claro que podemos ser movidos por uma causa próxima, mas o que de facto nos transporta é mais do que isso, mais do que essa causa próxima, é uma busca. É o que a palavra salvação transmite.

Por que razão quando estamos em Fátima há algo que está acima de nós, que em absoluto nos ultrapassa?

Está acima de nós, mas está dentro de nós. Como dizia alguém – é uma enorme concentração espiritual. É um concentrado de experiências, de anseios. Eu recordo-me que o antigo reitor, quando se fizeram as obras de remodelação da capelinha, dizia aos operários: “Cuidado com essas pedras, porque essas pedras têm muitas lágrimas”. Há ali um concentrado imenso de expectativa, de esforço, de sofrimento.