Fazer o Caminho de Santiago é uma experiência muito interessante. Qualquer pessoa pode dizer isto! Nem todos o podem sentir, mas todos o podem garantir.
O que é verdade no caminho é que dele pouco se pode dizer se não se tiver feito. Não que seja uma experiência vedada, que tenha uma verdade encoberta. A questão está na experiência de o fazer, porque o caminho não é mais do que uma oportunidade.

O que fazemos com essa oportunidade, ou com as oportunidades que o caminho nos proporciona, é que tem riqueza, é que é importante.

Com os meus companheiros de viagens tenho procurado arranjar justificação (justificações talvez) para responder ao facto de o Caminho de Santiago ser tão diferente do ‘Ir a Fátima a pé!’. Já encontrámos um cento, mas a resposta não está completa. Porque a diferença não está nas paisagens (há boas e más em ambos), não está no esforço físico (que é duro em ambos), estará numa milésima parte no piso (mas também é possível ir a Fátima com muito menos alcatrão), mas nada disso é relevante. Aquela que considero ser a diferença mais importante é a atitude. Os peregrinos de Fátima e de Santiago BUSCAM coisas diferentes. Buscam, não procuram. Buscam…

Desta vez fizemos o Caminho Francês. Cento e doze quilómetros desde Sarria até Santiago. Em 2007 tinhamos feito o Português, desde Valença. A antiguidade deste caminho francês colocou-me/nos vários desafios (de pensamento e busca).

– O que me distingue de um peregrino de há 800 anos?
– De que dificuldades, desafios, sofrimentos padecia um peregrino há 800 anos a que eu hoje estou safo?
– O desprendimento a que eu hoje me obrigo ao fazer o caminho é menos duro do que há 800 anos?

Procurei respostas e encontrei algumas… à minha maneira… à minha conveniência…

O caminho é muito duro. Para mim é durissimo! Mas não é por causa do esforço físico – dessas dores só me lembro quando as sinto, não as temo. É duro por causa do esforço psicológico. Da renúncia ao mais fácil, da renúncia à desistência, da focalização no que é importante, na gestão do conforto possível e (de certa forma) da sobrevivência. Do confronto com as verdades que o silêncio nos mostra, com a vida que nos passa pela frente.

O caminho é uma experiência espiritual. O que faz com que seja muito mais do que uma experiência religiosa. Não tem nada de masoquismo. Não tem nada de fanatismo. Tem muito de auto-conhecimento, de auto-controle, de auto-ajuda. Muito de reflexão. Muito de libertador.

Não convido ninguém a fazer o caminho. Não seria capaz de o fazer.

Gosto muito de o fazer, mas acho que nunca o conseguiria fazer sozinho. Fazê-lo com o NJ, com a RJ e – experiência maravilhosa – com a I é muito bonito e muito importante.

Repetir? Talvez.
Eu até aprendi na faculdade que repetir é voltar a dar!