2009 em revista
CONCELHO DA MEALHADA

A parte final de cada ano é tempo propício à reflexão, ao balanço das actividades anuais desenvolvidas na vida particular de cada um e na vida colectiva. Não ajudará esse balanço à tomada de decisões e ao planeamento para o ano que começa?

Relativamente a 2009, no concelho da Mealhada, há acontecimentos que se destacam num ano marcado por três actos eleitorais de grande importância e impacto. Talvez tenha sido por essa razão, e pela realização das eleições autárquicas, especialmente, que 2009 foi um ano politicamente tão interessante. Os partidos políticos tiveram de começar por escolher os seus candidatos, nomeadamente os cabeças-de-lista à Câmara e às Juntas de Freguesia. No PSD a decisão não terá sido controversa: César Carvalheira, um ano antes, tinha ido a votos em eleições internas e tinha sido eleito líder da concelhia por esmagadora maioria. No PS, pelo contrário, a decisão foi muito complexa, com um conjunto de peripécias que epitetámos de ‘Guerra das Rosas’. O Partido Socialista mealhadense viveu momentos de muita fricção entre os que entendiam que Carlos Cabral deveria ser recandidato e os que, achando o contrário, apoiavam a candidatura de Rui Marqueiro. A decisão só viria a ser tomada a 21 de Março, depois da intervenção indirecta de alguns responsáveis nacionais que levou a um consenso, com cedência de ambas as partes, mas com a indicação de Cabral para cabeça-de-lista à Câmara Municipal.
A CDU escolheu José Cadete para cabeça-de-lista à Câmara Municipal. Uma escolha natural depois de este pampilhosense ter protagonizado um mandato durante o qual a CDU foi, algumas vezes, o fiel da balança e um factor de estabilidade política. Depois de dois avanços e dois recuos, ainda não foi neste ano que o Bloco de Esquerda se organizou no concelho da Mealhada. Poderia tirar partido, nas autárquicas, do capital político conquistado nas eleições nacionais.
Cabral, Carvalheira – que já se candidatara em 1989 e em 1993 – e Cadete foram os candidatos. Em 11 de Outubro, a vitória sorriu ao primeiro, com resultado muito pesado para o segundo, que perdeu um vereador e a maioria na freguesia de Ventosa do Bairro – o até agora bastião social-democrata concelhio.
Em termos políticos, no confronto partidário, o ano de 2009 ficará marcado como o tempo da judicialização da política. Todos os grandes temas de debate político passaram por queixas judiciais de um ou de ambos os contendentes: ciclovia do Parque da Cidade, extracção de inertes em Mala, aterro na estrada do Luso, contratação de veterinário municipal, Caso Calhoa, etc. Estas, que se somam às queixas que resultaram do próprio debate, como a de Cabral contra Carvalheira e a de Calhoa contra Carlos Marques, por alegada difamação.
Partidos à parte, 2009 foi, ainda em termos políticos, uma data importante para o Buçaco. Nos primeiros sete meses foi criada a Fundação Mata do Buçaco, publicados os seus estatutos e empossado o seu conselho de administração, com um representante da Câmara Municipal da Mealhada a presidir. Talvez tenha sido o acontecimento mais importante do ano. Mas, em sentido inverso, 2009 foi também o ano em que, fatalmente, e por inoperância dos serviços burocráticos do Estado, se perdeu um milhão e duzentos e sessenta mil euros de fundos comunitários que haviam sido destinados a custear infra-estruturas de requalificação da Mata do Buçaco.
Em termos culturais, no concelho da Mealhada, 2009 foi o ano em que, por iniciativa de um grupo de associações, o Cortejo dos Reis tomou forma e viu a luz do dia. Em 2009, a maior iniciativa cultural do concelho, o Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada adoptou novas formas de organização financeira. Foram mais de mil as pessoas que participaram na Romaria da Ascensão, no Buçaco. O ano de 2009 foi, também, o ano do centenário do Colégio da Mealhada e o ano em que a sala de espectáculos do cineteatro Messias recebeu público para ver os Deolinda, Mafalda Arnauth e teatro de revista, com Marina Mota, entre outros.
O mundo todo, em 2009, esteve em depressão por causa da Economia. No concelho da Mealhada o encerramento da Inporsan, a crise directiva e a decisão de insolvência da Adega Cooperativa da Mealhada, bem como os adiamentos, os atrasos e, até, o encerramento do balneário termal de Luso, pintaram de negro a economia concelhia. Apenas o elogio ao leitão da Mealhada no ‘Wall Street Journal’, de Nova Yorque, ou a instalação de grandes empresas na zona industrial da Pedrulha, como a Madeira & Madeira, poderá ter atenuado os efeitos danosos de um ano muito difícil, no qual até a Câmara se viu na contingência de reduzir significativamente a carga de impostos sobre as empresas.
No domínio da Educação, 2009 ficará conhecido como o ano em que as escolas e os funcionários da acção educativa passaram para a gestão municipal. No concelho da Mealhada as direcções dos agrupamentos de escolas e da escola secundária foram a votos e novos directores eleitos por quatro anos. O ano de 2009 foi, para a Escola Profissional da Mealhada, o da internacionalização, da solidariedade e do reconhecimento em mais um país africano de língua oficial portuguesa, Moçambique.
A requalificação do Estádio Municipal Dr.Américo Couto, na Mealhada, e a construção do Campo Municipal Carlos Duarte, na Pampilhosa, marcam o ano desportivo. Ano em que uma moção de censura provocou eleições antecipadas para os órgãos sociais do Grupo Desportivo da Mealhada, em que a equipa representante da freguesia de Luso foi a vencedora do 4.º torneio Interfreguesias de Futsal, em que o pampilhosense Jorge Martins foi bronze no Campeonato Europeu de Shukokai, em que Beatriz Gomes foi campeã do mundo de Canoagem, e em que Paulo Carvalheira Castela, Maria Malaguerra Costa e João Portela se revelaram no Ténis, na Natação e no Atletismo.
Os maus cheiros não deixaram de se sentir, mas, talvez pela redução da intensidade, os protestos deixaram de se ouvir. Outros protestos, porém, se ouviram. Foram os da ADELB, que não se calou ante a passividade do Estado relativamente ao avanço do nemátodo nos pinhais da serra do Buçaco de que é proprietário. Em 2009, o Parque da Cidade abriu, para gáudio de uma comunidade que se entristecia ao ver a decadência de um espaço tão extraordinário.
Quando tudo parecia ir bem, de vento em popa, no Hospital da Misericórdia da Mealhada, com o assinar de novos protocolos e acordos com o Estado e uma aproximação com a Câmara Municipal da Mealhada, dá-se a saída teatral e mediática da sua direcção clínica que deixou acusações que o tempo, entretanto, veio mostrar serem infundamentadas. O Hospital virou a página a tempo e a situação, no final do ano, parece sorrir novamente. Sorrisos, de contentamento, puderam observar-se no Luso, cujos habitantes viram abrir, em 2009, e com anos de atraso relativamente ao previsto, as novas instalações da extensão de saúde daquela freguesia.
No apoio social, 2009 ficará assinalado como o ano em que foi lançada a primeira pedra do Centro Social da Freguesia de Casal Comba. Em 2009, António José Madeira de Oliveira ‘Macaca’, Manuel Joaquim Pires Santos e António Simões, entre outros, abandonaram o mundo dos vivos, para prejuízo da vida comunitária e para saudade de todos.

Editorial do Jornal da Mealhada de 6 de Janeiro de 2010