«República, a revolução que continua longe do consenso»

in Jornal PÚBLICO de 31 de Janeiro de 2010

Na edição de domingo do Público, na página 2, num texto assinado por Luís Miguel Queirós, – com o título “Uma revolução democrática ou a vitória de extremistas”, é apresentada a ideia de que, mesmo no meio académico, não é consensual a leitura factual das conquistas e do que foram os primeiros anos da República em Portugal (1910 – 1926). O texto é interessante e contrapõe posições como a de Rui Ramos – coordenador da recente publicação ‘História de Portugal’ -, de Manuel Loff, que colabora na elaboração de um ‘Dicionário da República e do Republicanismo’, e de Fernando Rosas e Maria Fernanda Rollo, autores da ‘História da Primeira República’.
Os quatro autores (ou três grupos se juntarmos Rosas e Rollo autores do mesmo livro) são concordantes na identificação dos falhanços da Primeira República… E para sintetizar isso até cito Rosas (em entrevista ao i): “A Primeira República falhou no essencial: Democratizar o país!”. A este respeito Rui Ramos acrescenta: “Nos anos 20, Portugal era um dos poucos regimes europeus sem sufrágio universal [o voto era vedado aos analfabetos e às mulheres]. Só em 1915 foram convocadas as primeiras eleições gerais”.
Mas os quatro autores discordam em tudo o resto.
A falta de consenso intelectual a este respeito é total. Na introdução do ‘História da Primeiro República’, os autores apresentam o contraponto de duas linhas de posição sobre esta matéria que se vão degladiar ao longo do resto deste ano de Centenário da República.

Por um lado a corrente «que encara o republicanismo como pouco mais do que uma conspiração maçónica-radical de alguns intelectuais urbanos subversivos, sedentos de poder e carentes de escrúpulos». Que Rosas/Rollo consideram estar em ‘reaparecimento’ e ‘reafirmação’ numa linha “a meio-caminho entre a história e a política, de forte cunho monárquico-conservador” e que “constitui uma reedição do discurso propagandistico do Estado Novo”… Deve estar a referir-se à ‘malta’ do 31 da Armada… digo eu!

Por outro lado a corrente «de uma certa ortodoxia maçónica-republicanista acriticamente glorificadora». Deve estar a referir-se aqueles republicanos ceguetas que ainda andam à procura do Rei para o matar outra vez!