Hoje é 15 de Agosto. É Feriado Nacional. Há muita gente que acha que é feriado porque o Governo se lembrou de dar mais um dia de férias a quem goza o descanso estival na primeira quinzena de Agosto. Mas não é assim. 15 de Agosto é mais um dos feriados religiosos que os jacobinos portugueses nunca quiseram deixar cair… porque até pode dar grande jeito!
15 de Agosto é dia da “Assunção de Nossa Senhora” – Maria –, mãe de Jesus Cristo. Assinala a solenidade religiosa da subida aos céus de Maria – Virgem Maria, Santa Maria ou Nossa Senhora – no final da sua vida terrena. Para os católicos a Mãe de Jesus – tal como o seu filho – não morreu. Em determinada altura, já com provecta idade, submetida a um fenómeno de ‘dormição’ (adormecimento), Maria foi elevada aos céus – não só em alma, como em corpo. A questão é dogma de fé – indiscutível, portanto – instituído pelo Papa Pio XII, em 1 de Novembro de 1950, na sua Constituição Apostólica Munificentissimus Deus.
O assunto é interessante, independentemente da opinião que se possa ter a este respeito, porque a vida e a “morte” de Maria é – assim como no caso de Jesus – ‘mexe’ com a própria divindade de duas personalidades que, historicamente existiram entre os homens. No entanto, este é, por outro lado, um dogma relativamente recente, o que não deixa de ser surpreendente.
A questão no entanto é teológica – e sobre isso pouco posso opinar – que é o facto de a duas personalidades divinas, não assistir a perenidade ou a faculdade da morte. Maria e Jesus – ambos concebidos sem o ‘pecado original’, segundo o dogma da Conceição – não terão a faculdade humana (terrena e resultante desse mesmo ‘pecado’) de morrer.
Mas voltemos ao que me foi possível investigar a este respeito. Repito que me limito a expor o assunto, procurando ser exacto, sem analisar criticamente ou expor eventuais pontos de vista.
Como ponto prévio, repare-se que enquanto Jesus “ascendeu aos céus” – na solenidade da Ascensão, no 44.º dia depois da Páscoa – com Maria houve a “assunção”. Jesus subiu aos céus por seu próprio poder, Maria foi subida, subiu por intermédio de Deus.
A Assunção de Maria aos céus não se encontra explicitamente nas Sagradas Escrituras. Apesar de os especialistas considerarem que está implícita. De qualquer forma, trata-se de uma ideia que terá tido transmissão escrita e oral ao longo de toda a história da Igreja, até ao estabelecimento do dogma católico em 1950.
Repare-se, também, que a Assunção de Maria é dogma católico. Outras igrejas cristãs têm entendimento diferente sobre a morte da mãe de Jesus. Os protestantes acreditam que a Maria, apesar de ter sido o Tabernáculo vivo da divindade, deve ter conhecido “a podridão do túmulo, a voracidade dos evermos, o esquecimento da morte, o aniquilamento de sua pessoa”. Os cristãos ortodoxos assinalam a solenidade da “dormição” – uma morte suave, adormecimento – de Maria e a deposição do seu corpo no Getsemani, o Jardim das Oliveiras, em Jerusalém.
Na ocasião de Pentecostes, Maria tinha, mais ou menos, 47 anos de idade. Depois desse facto, terá permanecido mais 25 anos na terra, “para educar e formar, por assim dizer, a Igreja nascente, como outrora ela educara, protegera, e dirigira a infância do Filho de Deus”.
A opinião mais comum atesta que a “carreira mortal” de Maria terá terminado aos 72 anos, conforme a opinião mais comum.
São Dionísio Aeropagita, discípulo de São Paulo e primeiro Bispo de Paris, que terá assistido, juntamente com vários apóstolos e discípulos, garante – na sua narração do facto – que a morte de Maria foi suave, como num adormecimento. A narrativa atesta, ainda “que os Apóstolos foram milagrosamente levados para Jerusalém, na noite que precedera o desenlace” de Maria.
São João Damasceno, um dos mais ilustres doutores da Igreja Oriental, refere que “os fiéis de Jerusalém, ao terem notícia do falecimento de sua Mãe querida, como a chamavam, vieram em multidão prestar-lhe as últimas homenagens e que logo se multiplicaram os milagres em redor da relíquia sagrada de seu corpo”.
Numa descrição muito parecida com a da narrativa da notícia da Ressurreição de Jesus, reza a história que São Tomé não terá estado em Jerusalém nesse dia. Terá chegado três dias depois. O Apóstolo Tomé terá pedido, então, para ver o corpo morto de Maria. Aberto o túmulo, retirada a pedra, o corpo já lá não estava. “Do túmulo exalava um perfume de suavidade celestial!”. Como Jesus, Maria ressuscitara ao terceiro dia.
Uma outra descrição, num dos livros apócrifos (textos não considerados como sagrados pela Igreja), narra a Assunção de Maria com particular meticulosidade, colocando testemunhas que terão assistido ao acontecimento. O livro de São João coloca São Pedro a presidir a um ritual, no qual teriam participado os apóstolos, em que as próprias mãos de Deus terão recolhido o corpo para os céus.
Muitas das tradições religiosas em relação à Maria têm suas origens nos livros apócrifos. Os nomes de seu pai e de sua mãe, a visita que ela e Jesus receberam dos magos, o parto em uma manjedoura, são apenas algumas delas.
A fé na Assunção de Maria terá começado imediatamente, e descritas pelos doutores da Igreja dos primeiros séculos, e relatadas, depois, no Concílio geral de Calcedónia, em 451.
A tradição atribui a Maria o título de Nossa Senhora da Boa Morte. Acontece que a mesma tradição evita dizer que Maria morreu, substituindo o termo por “dormitio”, para justificar o fim da vida da Mãe de Deus na terra. A justificação dada para esta aparente contradição tem passado pela ideia da imagem de uma Boa Morte com a do adormecimento suave.

O Novo Catecismo da Igreja Católica declara: “A Assunção da Santíssima Virgem constitui uma participação singular na Ressurreição do seu Filho e uma antecipação da Ressurreição dos demais cristãos” (n. 966).

Se hoje santuários como o de Fátima ou Lourdes – onde o registo é de aparições de Maria – são altares do Mundo. O que seria expectável neste domínio do culto num santuário onde estivessem depositados os restos mortais de Maria, a mãe de Deus, ou de Jesus, o próprio Deus-Filho?