Foto: Guillaume Binet/MYOP/LUZphoto
Cairo, Egito
[Vivemos a História e nem nos apercebemos. Saberão, mais tarde, mais os que nos seguirão do que nós, que vivemos o dia dos acontecimentos, numa sociedade mediatizada.
Se um dia me perguntarem onde é que eu estava quando se deu ‘a guinada democrática’ no Norte de África, eu não saberei responder. E é pena!]
A Revolução de Jasmim começou na Tunisia, a 18 de dezembro, e nem me apercebi… Ben Ali caiu, e o Mundo Arabe viu na vitória de Tunes, no cheiro da Flor do Jasmim, uma oportunidade. Uma oportunidade a caminho da Democracia pura, da Democracia do povo.
Há quem diga que a Democracia é um conceito estritamente ocidental e que sistemas políticos democráticos em regiões como o Médio Oriente, o Mundo Árabe – ou islamita -, ou Africa, por exemplo, não resultam nem são nem natural, nem sociológicamente viáveis.
Será assim?
Há no Mundo Árabes regimes religiosos, há regimes nacionalistas, há regimes anti-semitas, há regimes democráticos, há regimes terroristas… há de tudo, naturalmente.
O que provavelmente não há, passou a haver agora: A Esperança de que os regimes não são eternos, nem os seus lideres se podem eternizar. No Irão, já havia sido ‘cheirada’ essa esperança, mas nunca com resultados palpáveis…
Em Tunes reabriu-se uma esperança… que até pode ser passageira, que até pode ‘murchar’ daqui a poucos dias, mas nunca a globalização tinha entrado de modo tão evidente, tão radical, tão intenso como no tempo que agora vivemos.
Os tunisinos mandaram embora Ben Ali, e manifestaram-se nas ruas enquanto todos os anteriores ministros do ditador não sairam do Governo provisório…
Os apoiantes de Mubarak, no Egito, atacam, neste preciso momento, no nono dia de manifestações e depois do árabe-amigo-dos-americanos ter subsitituído o Governo, os manifestantes da Praça de Tahrir a cavalo em equídeos e em camelos, com chicotes e paus. Os manifestantes – que chamam à praça a da Libertação -, protegem-se, com a convicção de que a debandada da praça é a derrota da esperança.
Obama já tirou o tapete a Mubarak, mas não pode apoiar publicamente El Baradei, porque os americanos (e especialmente a maioria republicana no Congresso) ‘não pagam a traidores’ … Os ministros europeus vão pressionar, ‘ma non troppo’, porque afinal somos vizinhos não podemos meter a colher!… Os egipcios vão ter mesmo de resolver o problema sozinhos.
Na Jordânia – que apesar de ser uma monarquia tem um regime que se pode chamar de democrático – o Rei Abdullah II demitiu o Governo e nomeou, ontem, Marouf al-Bakhit para o cargo de primeiro-ministro da Jordânia, “numa cedência aos protestos populares inspirados na rebelião no Egito”, e que começaram a 14 de janeiro. A oposição islamita exige o seu afastamento por considerar “não ser a pessoa certa para as funções”… vamos ver o que diz o povo da Rua.
A Argélia foi o primeiro país a ter manifestantes na rua depois da Tunisia. O clima de tensão mantém-se. O mesmo se passa no Líbano, no Yémen, na Síria e na Palestina.
Na Líbia, na Mauritânia, em Omã e na Arábia Saudita os protestos nunca ganharam grande volume, e já terão sido dirimidos.
O cheiro da flor do Jasmim está a espalhar-se no Norte de Africa.
Aguardemos para ver até onde chega o seu perfume.

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