Regenerar

A tomada de posse de uma nova Assembleia da República, a tomada de posse de um novo Governo e a eleição de um novo líder da oposição são oportunidades que o sistema político português – o da III República, o da Constituição Democrática de 1976 – deve aproveitar para se regenerar. Para se auto-regenerar. Uma regeneração que mais do que necessária é vital para o futuro da Democracia portuguesa.
Os portugueses mostram-se, a cada dia, desmotivados com o exercício político, e dão como certa a falta de escrúpulos a quem exerce funções de serviço público no exercício de cargos políticos e de soberania. Um grande educador do século XX garantia que o exemplo não é a melhor forma de educar, é a única. Pelo que só pelo exemplo é possível que os políticos portugueses mudem a opinião que os cidadãos têm deles.
O Governo empossado ontem é pequeno, tem onze ministros. É um Governo jovem – tem uma média de idades de 47 anos, sendo o ministro da Educação o mais velho, com 59 anos. É um Governo independente – formado por dois partidos políticos e mais de um terço de ministros sem militância partidária. Os ministros que têm militância partidária foram importantes dirigentes de juventudes partidárias – para muitos pode ser um pecado, para nós é prova de gosto continuado pelo serviço público no exercício da Política. Este é um Governo com pouca experiência na máquina do Estado – dos onze, só Paulo Portas e Aguiar Branco algum dia foram ministros.
Com a eleição de António José Seguro ou de Francisco de Assis – um foi um brilhante secretário-geral da Juventude Socialista e o outro o mais jovem presidente da Câmara Municipal do país –, para a liderança do Partido Socialista, e da Oposição, estão criadas – ao nível dos protagonistas – as condições para, de facto, ter lugar uma regeneração profunda no sistema político português. Uma regeneração que pode acontecer pela via da revisão constitucional – e aí pode mesmo consubstanciar-se numa refundação –, mas acima de tudo, uma mudança pelo exemplo.
Nunca, como hoje, estiveram reunidas as condições – objetivas e subjetivas – para essa regeneração acontecer.

In Jornal da Mealhada de 22 de junho de 2011
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