A Política é uma arte complicada.
Dizia Agostinho de Hipona, no “Cidade de Deus”, ou Platão, no “República” (já não consigo precisar) que o melhor político era o filosofo… só que o filosofo não podia ser político!
Andamos sempre a dizer que temos de abrir o exercício de cargos políticos a independentes. Que temos de dar lugar aos bons aos que não estão manietados por circunstâncias ou falta de capacidades que impedem que o seu serviço o seja verdadeiramente e em favor da Comunidade e da Pátria. Mas quando aparecem os independentes, temos a tentação de dizer que são incapazes porque não têm a experiência… Como o recém licenciado a quem se exige experiência para lhe ser dado o primeiro emprego. Ou o doutorado que é demasiado teórico para ser ministro, como o candidato que é preterido por ter habilitações a mais.

Em tese, Fernando Nobre – que é um heroi nacional, o 25.º melhor português de sempre, e o 5.º ainda vivo – seria a pessoa indicada para exercer um cargo de soberania e de prestígio. O fundador da AMI e candidato à Presidência da República reúne todas as condições para ser Deputado da Nação ou para ser Conselheiro de Estado.
Mas Fernando Nobre não é a pessoa indicada para ser presidente do Parlamento. Convenhamos. É, certamente, um homem extraordinário (apesar de eu achar que é desprovido de humildade, e de uma terrível falta de sentido crítico na sua auto-imagem), mas não está habilitado a exercer um cargo tão técnico como o de ser Presidente do Parlamento.
Nobre já mostrou como se pode mudar o mundo, não deixa de ser frustrante a necessidade que demonstrou de o prosseguir através do exercicio de um cargo político. Estávamos à espera (nós que acompanhamos a sua obra) que nos mostrasse (ou continuasse a mostrar) todas as formas não politicas e não institucionais de mudar o mundo. Por outro lado, Nobre já disse do Parlamento e dos deputados “o que Maomé seria incapaz de dizer da carne de porco!”, não faz sentido que agora queira ser o responsável institucional pela defesa do modelo parlamentarista da Nação.

Pedro Passos Coelho portou-se muito bem. Foi convidar um independente – que se havia mostrado disponível para o ajudar – e comprometeu-se a dar-lhe o estatuto que um candidato presidencial obrigatoriamente deve ter no Estado. Hoje, Passos Coelho pediu aos deputados do PSD que votassem em Nobre, como lhe competia. Passos Coelho aguentou o nome de Nobre, enquanto Nobre quisesse. Passos Coelho não deixou cair quem o apoiou e com quem se comprometeu.
Os maçons do Parlamento – a maior parte deles na bancada do Partido Socialista – cumpriram, também, com os preceitos, e apoiaram um irmão. Ou seja, não foram poucos os deputados do PSD que não se mostraram solidários com Passos Coelho.
Nobre desistiu e Pedro Passos Coelho teve a sua primeira vitória enquanto Estadista indigitado. Se Roma não paga a traidores, não toleraria que em nome da Realpolitik fosse traído um compromisso. O primeiro-ministro indigitado mostrou que os compromissos são para cumprir, mesmo que aos olhos de alguns esses mesmos compromissos pareçam derrotas. Derrotas de pirro, talvez, dizem alguns, mais derrotas.
Não concordo que Passos Coelho tenha tido hoje uma derrota. Acho aliás, que teve uma grande vitória. Deu, aos comentadores, aos adversários, aos delatores, uma lição e um bom exemplo da politica da Mudança que o país precisa!
Hoje apetecia-me citar António Vitorino, que, algures nos dias em que Sócrates fazia convites para o XVII Governo Constitucional e à porta da sede no Rato, proclamou aos jornalistas que protestavam os ditames da Lei da Rolha: “Habituem-se!”.
“Habituem-se”, poderia dizer – eu assim quero acreditar – Passos Coelho. Habituem-se à ideia de que os compromissos são para cumprir, mesmo que doam. Habituem-se a ouvir dizer sempre a verdade, mesmo que inconveniente, da boca da mão que segura o leme. Habituem-se a confiar nos políticos. Habituem-se a separar o trigo do joio. Habituem-se à Verdade.
Noblesse Oblige: A Nobreza (do caráter) Obriga. Obrigou Passos a cumprir a sua palavra até ao último momento. A Nobreza obriga-nos à coerência, mesma que traga dor. A dor pela qual tem de passar, quem quer ir além do Bojador.
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