Ter um blogue…

Um professor universitário, há uns dias, sugeria aos novos estudantes de jornalismo e comunicação social de uma escola superior de Coimbra (das muitas com estes cursos), que os alunos expressassem a sua opinião, mantivessem blogues actualizados onde pudessem, amplamente, divulgar os seus estados de alma.
O professor terá razão, certamente, no sentido da importância de os alunos conseguirem demonstrar, clara e inequivvocamente, que sabem escrever correctamente, que conseguem apresentar um raciocicio coerente e eficaz aos olhos do receptor de uma determinada mensagem. Não tenho a mesma certeza da razão do professor relativamente à questão da opinião amplamente divulgada…

Parece-me importante que o jornalista tenha uma visão do mundo, tenha cultura geral suficiente para ser versátil e eficaz no tratamento de mensagens que podem, num mesmo dia, ir da astronomia, à política, passando pela religião ou pela medicina ou futebol… Mas daí a apresentar a sua opinião não como transmissor, mas como emissor de ideias pessoais parece-me arriscado. Ao jornalista exige-se que seja imparcial, que consiga transmitir uma informação sem se perceber, claramente, se discorda ou concorda com o conteúdo, ou se gosta ou não gosta do emissor.

Ter um blogue, nesse sentido, é perigoso. Falo, naturalmente, por experiência própria, apesar de quando assumi as funções de direção do Jornal da Mealhada ter assumida uma identidade politica e ideologicamente conhecida pela comunidade. Muitas vezes limitei a minha opinião aqui n’ o fio dos dias para que na minha função profissional não fossem deturpadas as informações sobre um determinado tema.

Agora mais liberto destes algozes e auto-censuras, talvez o fio dos dias ganhe alguma vitalidade e não seja, apenas, um repositório.