O Natal é diferente em Medelim. Não pelo que acontece ou não acontece, mas pelo ar frio e seco, pelos rituais intimos e, acima de tudo, para a nossa predisposição pela diferença, pelo não-quotidiano, pelo somar das vezes em que repetimos aqueles mesmos passos ano após ano.
O Natal em Medelim tem os avós, tem a memória dos bisavós, tem a intimidade da geneologia latente e nunca conhecida.
O Natal em Medelim tem o sabor às rabanadas fritas, às filhoses de abóbora e ao não gostar das filhoses da tia Piedade.
O Natal em Medelim tem a partilha, tem a televisão que não funciona, tem as fotos que metem medo, tem o cheiro ao fantasma do padre que morreu no primeiro andar da nossa casa.
O Natal em Medelim tem as contradições do meu avô, o vinho bom a saber a vinagre, o sabor ao bacalhau que todos preferiam ser de outra maneira.
O Natal em Medelim tem a missa fria dos aleluias demasiado agudos e as freiras espanholas que acentuam o “Salvadór”.
O Natal em Medelim é diferente.