α
Carnaval
I

– Entrei neste desafio de integrar a direcção da Associação do
Carnaval da Bairrada por dois motivos: Coerência e Solidariedade.
Por Coerência com o que tinha dito, escrito, criticado, suspirado e
elogiado relativamente a um evento central na cultura e na identidade
da comunidade onde habito. E por Solidariedade com um conjunto de
amigos que foram solidários comigo noutras guerras, com quem gosto
de trabalhar e por quem nutro grande amizade. Em dias como hoje,
especialmente antes de as coisas correrem (bem ou mal) pergunto-me
porquê dar-me ao trabalho de perder energias, tempo e paciência com
isto, podendo estar de fora e continuar a criticar a meu bel-prazer.
Lembro-me, logo a seguir, que devo.
β
Carnaval
II

– Não é fácil decidir. Também não é fácil ser mandado.
Especialmente quando se passa anos e anos a ser mal-mandado. Não
acreditamos, naturalmente, na voz do comando. Se ele diz ‘sim’, pode
ser ‘sim’, mas também pode vir a ser ‘talvez’, ‘não’ ou ‘se
calhar’… “Se soubesses o que custa mandar, obedecias toda a
vida”… O meu padrinho Rui diz que eu não sei ser mandado…
Talvez seja verdade, por muito que me custe reconhecê-lo… E hoje
reconheço, também, que me custa muito lidar com quem não sabe ser
mandado…
γ
Carnaval
III

– O pano cai e o público ovaciona. Há elogios. Serão
verdadeiros? Nos lábios persiste a adrenalina, vale a doce fartura –
o melhor do Carnaval na Mealhada – para esconder o ácido… O
trabalho está feito, venham as críticas… Sim, as criticas: Só
essas é que nos fazem crescer!