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A redacção do Jornal da Mealhada pediu-me que produzisse um testemunho para ser publicado na edição comemorativa dos 30 anos da publicação. Até há bem pouco tempo estava perdido o número 1 da I Série do JM. Cláudia Franco – arquivista do JM e da SCMM – encontrou não só este número, mas também o número zero, que foi publicado no dia 23 de agosto de 1985. Durante estes anos todos, assinalámos os aniversários do jornal em Dezembro de 1985 (por volta do dia 10), agora fica referenciado que a fundação é em 23 de agosto.

Aqui fica o testemunho que produzi para a efeméride:

Efectivamente, fui diretor do Jornal da Mealhada de janeiro de 2005 a dezembro de 2012, apesar de a minha relação afetiva com o título ser anterior a isso (muito anterior) e de continuar a colaborar diária e religiosamente muito depois de ter deixado de ser diretor editorial da publicação. O Jornal da Mealhada é parte de mim, como se fosse parte do meu corpo e da minha vida, e provavelmente ainda não consigo falar coerentemente sobre algo sobre o qual não consigo ter qualquer tipo de distanciamento.

Foi no Jornal da Mealhada que aprendi as primeiras letras – sou filho (biologicamente falando) da mulher que serviu o JM durante quase toda a existência da terceira série (e a quem tudo se deve) e era para o JM que eu ia depois da escola. Ali, e desde os meus 9 ou 10 anos, fui discípulo e protegido do Professor Armindo Pega, do Professor Manuel Santos, do Professor e Padre Abílio Simões. Tornei-me colaborador do JM logo nessa altura, colei etiquetas, dobrei jornais, depois comecei a desenhar cartoons, a escrever umas crónicas, primeiro esporádicas e depois regulares. E em 2005 foi no JM que tive a minha primeira profissão, o meu primeiro emprego.

Sofri muito com as criticas, vivi intensamente as vitórias. Esforcei-me na medida limite das minhas capacidades para que o jornal crescesse e progredisse, com o apoio incansável do Professor Santos, com a cumplicidade e apoio do Padre Abílio, com a dedicação da do Sr.Afonso Simões e da Mónica Sofia Lopes e de muitos colaboradores, com a coragem e resistência da minha mãe, a D.Isabel Canilho, e com a solidariedade dos gerentes e de quase todos os sócios da empresa proprietária do título.

Lutei no limite das minhas forças para garantir a continuidade do título, a ponto de o ter adquirido e depois o ter doado à Santa Casa da Misericórdia da Mealhada para que ele pudesse continuar a ser publicado e não morresse. Preferi entregar o título – com prejuízo pessoal – a permitir que deixasse de ser publicado.

É minha firme convicção de que o Jornal da Mealhada é um património da comunidade que não pode nem vai perder-se. Cada edição do JM é memória, é identidade, é valorização de um presente que um dia há-de ser passado e há-de ser importante. Um jornal é Direitos, é Liberdade e é Garantia de que somos parte activa da construção democrática e civilizacional. É pulmão que faz com que o espírito comunitário sobreviva. É a argamassa que nos mantém unidos e nos garante um sentimento de pertença.

Como qualquer projecto humano, é algo com momentos gloriosos e momentos de fracasso. É sempre capaz de melhorar, de se tornar mais perfeito, mais forte, mais capaz de cumprir a missão que lhe é confiada pelos seus leitores. Estamos cá, temos de estar cá, para garantir que consegue levantar-se sempre que tropeça, que consegue crescer em cada dia.