migrantes
Immigrés portugais dans le train Hendaye-Paris – Mars 1965 – Gerald Bloncourt

Há uns dias, num dos enésimos programas de televisão de canais de noticias sobre a “crise dos migrantes”, Fernando Nobre, o fundador da AMI – cada vez mais alucinado – dizia que neste momento há pelas estradas de Africa e não só do médio oriente colunas de pessoas que rumam em massa em direcção à Europa, quais manadas de gnus a procurar a terra verde e a água das chuvas. Dizia Nobre que há uns anos estas colunas encontrariam barreiras nas fronteiras líbias, egipcias, argelinas. Agora, encontrarão, apenas, o deserto do Saara, os perigos do Nilo e o imenso Mediterrâneo. Dizia Nobre que esta crise estava, apenas, a começar… e ilustrava o que procurava dizer com testemunhos de jovens de 10 e 16 anos que gastaram 12 mil euros para ir da Eritreia até à Suécia.

Muito se tem dito e escrito sobre estes migrantes, sobre os refugiados sírios. Há sempre qualquer coisa de novo, de há dois ou três meses a esta parte sobre este assunto. E, inevitavelmente, há comparações. Hoje vi uma dessas comparações, com a emigração portuguesa, nos anos 1960, para França, para as bidonville… Fotografias de Gerald Bloncourt que estão num albúm da sua página no facebook que não deixa de ser muito bonito e curioso de se ver.

Mas há naturalmente diferenças. Nos anos de 1960 os portugueses que fugiram para França, a salto, para as bidonville – nome chique para dizer bairros de lata – eram pobres, muito pobres, que fugiam da pobreza extrema e da guerra. Os sirios de 2015 fogem da guerra, é certo, mas são os mais qualificados e ricos da sociedade síria, porque conseguem pagar os passes das redes organizadas e porque, por exemplo falam inglês e demonstram ter alguma formação. Os sírios pobres continuam por lá, mortos ou a apodrecer na desesperança.

Gostei desta foto de Bloucourt, porque num dia de sexta-feira, no Veneris dies d’o fio dos dias, esta imagem da emigração portuguesa nos anos 60 é só de mulheres, três gerações de portuguesas que (re)fugiam para França, aqui de comboio – e imagino sempre o cheiro do sud-express nesta fase, com o ar carregado de transpiração e saturação noturna – rumo a uma vida áspera, dura… apenas com mais esperança.