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Eu não ouvi, mas lembro-me de descreverem o ar de consternado do velho Luís Marques quando lhe fizeram uma festa de homenagem em vida… “Não é habito dizer-se bem das pessoas antes delas morrerem…”! Recordo-me, mais recentemente, de a família do professor Manuel Santos me dizer que ele desejava que nada fosse publicado no jornal a propósito da sua morte e de eu responder que tínhamos de o fazer por nós, que o havíamos perdido…

Confesso que tenho uma péssima relação com a morte, com o sofrimento e com o agradecimento a quem está em fim de linha e é merecedor desse agradecimento. Voltou a acontecer com o Quim Eletricista. A direcção dos Bombeiros decidiu em Janeiro (na primeira reunião do mandato) homenagear o Bombeiro do Quadro de Honra e acima de tudo o voluntário e benemérito da associação com a atribuição do seu nome a uma viatura. O Quim Eletricista já tinha recebido as medalhas todas e esta seria a mais justa homenagem que lhe poderíamos fazer.

Colocava-se o dilema do costume: Sabendo todos que ele estava doente – provavelmente ele seria o que menos sabia dessa condição terminal – a homenagem à sua vida seria sempre uma espécie de despedida mórbida e, por isso, a evitar por quem o queria ver com saúde e a recuperar. Caíamos na consternação do velho Marques…

Por outro lado, sabíamos todos que cada dia de espera seria um dia a menos na oportunidade de lhe agradecer olhos nos olhos. E o inevitável aconteceu. No sábado a coisa tornou-se irreversível.

A família sabia desta vontade de o homenagear, os sócios souberam da decisão da direcção na assembleia-geral de Março. Alimentávamos todos a réstia de esperança de que a situação clínica se alterasse e que ele conseguisse baptizar a nova ambulância com o seu nome, sem que isso fosse visto como um requiem ou uma despedida.

É bem verdade de “há um tempo para tudo debaixo do Céu!“, mas parece cada vez mais difícil conhecer o tempo de dizer Obrigado. Se o dizemos muitas vezes – e ao Quim as vezes que o fiz não se conseguem contar – banalizamos o gesto e a obrigação perde intensidade. Se o dizemos na hora da festa parece ficar diluído entre os foguetes e a pompa da circunstância. Se o dizemos na hora da dor, soa a despedida, a requiem e perde-se o verdadeiro sabor da esperança do Amor no gesto simples.

Invariavelmente, fica para a hora da despedida o mais intenso obrigado. Para quem acredita que a vida do Quim permanecerá em nós enquanto o recordarmos, para quem acredita que o que fazemos é sempre mais do que o que somos, para quem acredita que do Alto os que amamos velam por nós, fica a certeza de quem o nosso obrigado é ouvido. Fica a garantia de que o nosso obrigado o ressuscitará sempre que fizermos em seu nome o que ele nos deixou de herança.

Obrigado Quim.

Vivemos hoje, com consternação, a última despedida ao Bombeiro 76 do Quadro de Honra, Joaquim Jorge, conhecido como ‘Quim Eletricista’. Felizmente, são muitas as razões que nos levam a viver com tristeza este momento. Trata-se de alguém que, para além de ter sido Bombeiro, pai, marido e um reconhecido profissional, era alguém que deu sempre mostras de grande dedicação aos outros, à sua comunidade, e aos Bombeiros da Mealhada em especial. Durante 16 anos, por exemplo, assumiu pessoalmente a participação da associação na Feira de Gastronomia da Mealhada. A presente direcção da associação, na primeira reunião deste mandato, deliberou por unanimidade atribuir o seu nome a uma viatura, em sua homenagem, ficando a cerimónia formal agendada para quando se sentisse melhor e pudesse comemorar com os seus amigos bombeiros. Infelizmente esse dia não chegou. O Funeral realiza-se hoje, 16 de maio, às 17 horas. Obrigado Amigo Quim.