Obrigado

Diz-se que é nos momentos de aflição que se conhece os que nos querem bem. Como se diz, também, que é nessa hora que se reconhece a fibra e a coragem das pessoas. Os acontecimentos da noite de 10 para 11 de agosto de 2016, especialmente – uma hora de aflição – demonstram a verdade destes dois dizeres populares. Os homens e as mulheres do concelho da Mealhada souberam, nesta noite fatídica, depois de um dia de angústia, unir-se em nome do bem-comum e, cada um à sua maneira, mostrar que a união é que faz a força de uma comunidade.

O incêndio que nessa madrugada nascera em Algeriz, no concelho de Anadia, e que entrou no concelho da Mealhada, pelo norte, na tarde de 10 de agosto, encontrou um concelho da Mealhada (felizmente) pouco habituado ao terror do fogo. Não encontrou, no entanto, um corpo de bombeiros pouco acostumado aos perigos do incêndio. Encontrou um conjunto de homens e mulheres habituados ao combate, equipados para a necessidade quotidiano e prontos (sempre prontos) para guerrear o extraordinário. Estaremos todos, naturalmente gratos aos Bombeiros Voluntários da Mealhada – seu corpo ativo e comando –. Aos bombeiros da Pampilhosa, mas também aos dos concelhos limítrofes e aos que compuseram os grupos que vieram dos distritos de Setúbal, de Santarém, Portalegre e Lisboa, o nosso obrigado.

A população soube dizer presente. E ajudou ao combate como pode. No campo de batalha, fazendo chegar água. E na retaguarda, tornando mais fácil o acesso a um mínimo de condições de alimentação e resistência. Porque nunca há bombeiros suficientes para um combate como o que vivemos, foram importantes os momentos em que as populações perceberam a ausência dos soldados da paz e fizeram o que podiam para os substituir. Obrigado à população que soube estar presente e compreender nos bombeiros o apoio e o seu trabalho.

Obrigado a todas as empresas que dispensaram os seus funcionários que são bombeiros para que estes pudessem entregar-se, por tantas horas, à nobre causa de defender não apenas o que é seu, não apenas o que é comum, mas aquilo de que é de cada um dos mealhadenses.

Uma palavra, ainda, de elogio e agradecimento, às famílias dos nossos bombeiros, que perante o pânico e a dificuldade de não saber dos seus, ou dos saber no pior cenário possível, compreenderam que toda a comunidade precisava deles naquela situação.

Também os autarcas do nosso município e das nossas freguesias souberam estar à altura dos acontecimentos. Uma palavra especial para o Presidente da Câmara da Mealhada e a sua equipa – que estiveram sempre no terreno – e para o presidente da Junta de Freguesia de Luso, Claudemiro Semedo, que foi incansável. Numa situação particularmente difícil souberam reconhecer o seu lugar, dar o seu apoio às estruturas da proteção civil e apoiar as pessoas num momento de angústia e de pânico. Obrigado pelo seu discernimento.

Nesta hora de balanço, deixamos um tributo de agradecimento à Santa Casa da Misericórdia da Mealhada – ao provedor, diretor-geral e ao corpo clínico do Hospital da Misericórdia – à Cruz Vermelha Portuguesa – por todo o apoio – e à Guarda Nacional Republicana, pela forma incansável com que colaborou com os bombeiros.

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Na retaguarda foi necessário garantir logística para que os bombeiros pudessem desempenhar o melhor possível a sua missão. Agradecemos aos escuteiros da Mealhada, de Casal Comba e da Pampilhosa, mas também de Coimbra, e às dezenas de voluntários que na Escola Profissional Vasconcellos Lebre deram, durante quase 150 horas, o seu tempo, o seu trabalho, a sua energia para confecionar as refeições, preparar toda a logística que acabou por ser muitíssimo elogiada pelos principais beneficiários, que são os bombeiros. Em momentos de maior tensão e em alturas de maior descontração, souberam mostrar que o trabalho voluntário é belo aos olhos de quem dele beneficia, mas muito mais reconfortante para quem dá de si.

Obrigado, a todas as pessoas – centenas ou talvez milhares – que durante esses dias fizeram chegar alimentos, água e muito apoio aos bombeiros do concelho da Mealhada. Obrigado às empresas que doaram géneros e apoio financeiro para apoiar os bombeiros numa altura particularmente difícil. Obrigado aos grupos de pessoas – nas empresas, nos grupos informais das redes sociais, na solidariedade do porta-a-porta e na diáspora também (no Canadá, por exemplo) – e aos cidadãos que nestes dias e nos seguintes ofereceram aos bombeiros donativos financeiros que muito ajudam as instituições. Essas dádivas, natural e materialmente relevantes, são, ainda, o gesto estimulante de saber que há solidariedade, que há apoio e que há o reconhecimento pela causa dos bombeiros voluntários em Portugal.

Um agradecimento final a toda a população e a muitas empresas do concelho da Mealhada que se associaram ao Troféu Solidariedade e que na noite de 24 de agosto de 2016 proporcionaram uma festa de desporto e solidariedade num jogo de futebol sem precedentes. Nunca estaremos completamente agradecidos aos promotores da iniciativa – desde o pai da ideia até aos que por ela trabalharam –, aos atletas do FC Pampilhosa, do GD Mealhada, do SC Carqueijo e do CR Antes, aos técnicos e dirigentes e, naturalmente e acima de tudo aos que compraram um bilhete e assim ajudaram (uma vez mais) os bombeiros da Mealhada.

Obrigado.

Nuno Castela Canilho

Presidente da Direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Mealhada   

 

TEXTO PUBLICADO NA EDIÇÃO DE 31 DE AGOSTO DE 2016, DO JORNAL DA MEALHADA