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Junta de Turismo Luso — Buçaco
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A noiva e o dote valioso
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“Somos noiva com dote valioso. Todos querem casar connosco. Pedem-nos em casamento, convidam-nos para pequenos “flirts” ou parcerias mais sérias, mas a noiva quer continuar solteira. Somos uma junta de turismo e queremos continuar a sê-lo. Podemos desenvolver todo o tipo de cooperação, de parcerias com outras entidades, mas não desempenharíamos tão bem a nossa função se nos diluíssemos num qualquer órgão”. Foi assim que, em Abril de 2006, Mário Pedrosa, presidente da Junta de Turismo Luso-Buçaco (JTLB), respondeu ao Jornal da Mealhada a propósito da não integração da zona de Luso-Buçaco nas regiões de turismo confinantes. Não podendo casar com a noiva, decidiu a família do noivo pôr fim à vida da JTLB. Não se sabe quando serão celebradas as exéquias — até nisto o Estado atrasa. Seria poético se não fosse trágico.
Fazemos parte do coro dos que não se conformam com a extinção súbita, apesar de prenunciada, das juntas de turismo — a de Luso-Buçaco e a da Curia, principalmente. A existência das juntas de turismo (JT), apesar de muitas dificuldades — as de natureza financeiras, e as que resultavam de estarem, pelo menos em tese, ligadas essencialmente a uma estância termal —, teve algumas vantagens que importa considerar e importaria preservar.
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A primeira vantagem tem sido, no nosso entender, o facto de as direcções das JT gozarem de uma certa autonomia em relação ao poder político. Embora delas façam parte elementos indigitados pelo presidente da Câmara Municipal, elas integram um representante dos empresários da zona, ligados ao turismo, eleito pelos seus pares. A participação de todos os ‘actores’ da área turística na tomada de decisões para definição das estratégias a seguir no campo do turismo parece-nos fundamental. Com a extinção destes organismos a participação dos referidos empresários extingue-se também.
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A segunda vantagem é a de a actividade da JT ser financiada pela Câmara e, também, pelo Estado, com a receita do IVA turístico. No caso concreto da Junta de Turismo Luso-Buçaco, em 2007 o Estado entregou-lhe 86 178,30 euros, o que significa mais de metade das receitas do seu orçamento anual — cinquenta e um por cento, exactamente. A Câmara Municipal da Mealhada contribuiu com 83 500 euros e, para além disto, terá apoiado com o pagamento das despesas de alguns iniciativas como a das novas brochuras informativas, por exemplo. Com a extinção da JTLB o dinheiro que o Estado entregava dificilmente será investido no concelho da Mealhada, como era. É dinheiro que o concelho perde. Para não falar, já, dos funcionários da Junta cuja situação futura não nos parece que esteja suficientemente definida. Será que vão ser dispensados?
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A terceira vantagem é a de maior eficácia na promoção turística do concelho da Mealhada. Particularmente nos últimos anos, a Junta de Turismo Luso-Buçaco tem sido especialmente activa no que diz respeito à qualidade do material informativo — sobre o sacromonte do Buçaco, por exemplo — e à sua melhor distribuição, e, ainda, à criação de novos produtos turísticos como os circuitos temáticos, guiados, na vila do Luso e no Buçaco, ou o investimento com vista ao incremento do turismo desportivo e da ocupação das instalações hoteleiras. Não terá sido suficiente, haveria ainda muito mais a fazer mas tememos que, a partir da extinção da Junta de Turismo Luso-Buçaco, tudo isso se perderá.
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A Região de Turismo do Centro encarregar-se-á da promoção turística do concelho da Mealhada, como de outros. No entanto, a Câmara da Mealhada terá, julgamos nós, que assegurar a defesa dos interesses turísticos municipais e criar um organismo sucedâneo para as tarefas que até agora eram desempenhadas pela Junta de Turismo. Em primeiro lugar, por causa da necessidade de uma promoção turística diferenciada e especifica, e, em segundo lugar, por uma questão de reacção a um processo de regressão da autonomia política na área do turismo concelhio.
Por qual modelo optará Carlos Cabral e a maioria socialista do executivo municipal? Pelo reforço da importância política e financeira do pelouro do turismo na autarquia? O modelo é o clássico, o mais fácil de implementar e o mais barato. Será o ideal? A Câmara poderia, também, optar pela criação de uma empresa municipal com responsabilidades no turismo, que, a exemplo da Inova, de Cantanhede, fosse responsável pela exploração do sistema de água e saneamento do concelho — e obter, nesta actividade, um meio de financiamento — e fosse, também, a organizadora de eventos como a Feira de Artesanato e Gastronomia, a Expo Mealhada (em parceria com a ACIM, a mãe da criança), e — por que não? — o Carnaval da Bairrada. Sabemos, no entanto, que Carlos Cabral se tem mostrado, por princípio, avesso à criação de empresas municipais, e o mesmo será dizer que dificilmente tomará este caminho… A menos que consiga criar um modelo híbrido de empresa municipal e ponha os administradores a trabalhar voluntariamente. Talvez não fosse difícil.
Independentemente do caminho que a Câmara Municipal tome para preencher a lacuna resultante da extinção da Junta de Turismo, seria importante que, num futuro modelo, não se perdessem, por um lado, a obrigatoriedade de a decisão das opções turísticas não ser exclusivamente político-partidária, estatal, mas ser participada, com intervenção de representantes das empresas concelhias ligadas ao turismo, e, por outro lado, não se perdesse, também, o ímpeto do investimento que tem estado em curso na melhoria dos produtos a oferecer aos turistas que visitam o concelho da Mealhada.
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Editorial do Jornal da Mealhada de 9 de Janeiro de 2008