Do Destino do Luso e dos seus protagonistas

A propósito da apresentação do plano de desenvolvimento do projecto Destino Luso — Saúde, Beleza e Bem-estar

Carlos Cabral, presidente da Câmara Municipal da Mealhada, subiu ao palco do cineteatro Messias, na Mealhada, na tarde de 23 de Outubro de 2008, como “o rosto e o nome do desafio” que constitui o projecto Destino Luso – Saúde, Beleza e Bem-estar — a concretização do plano Luso Inova, já anteriormente apresentado, e que pretende implementar uma estratégia ampla de revitalização turística, termal e empresarial do Luso, mas também, naturalmente, de todo o concelho da Mealhada. Um investimento inicial e “previsível” de cinquenta milhões de euros. Damos conta do programa e da referida sessão nas páginas 2 e 3 da presente edição.
Tão profissional no marketing político como na resposta, diríamos que cabal, que dá aos críticos, o presidente da Câmara aposta neste programa todo o seu capital político, como se deste processo dependesse todo o futuro: se correr bem, Cabral é o único candidato viável a presidente da Câmara, em Outubro de 2009. Fá-lo com arte, o risco é minimizado: se correr mal, sai, ainda, pela porta grande como o timoneiro de um programa arrojadíssimo.
Cabral tem contra ele, no entanto, um pequeno senão. Por um lado, tem seguido, sábia e prudentemente, uma estratégia de gestão do silêncio junto da comunicação social, atitude que o tem resguardado politicamente. Por outro lado, Carlos Cabral precisa agora de chegar aos investidores e aos lusenses para fazer vingar este programa Destino Luso, com uma imagem de dinamismo, arrojo e qualidade – e para isso precisa da comunicação social. A sua grande dificuldade não está em ter má imprensa, está no facto de passar a ser artificial o “encontro” entre o presidente da Câmara e os munícipes através dos jornais, ou da rádio. E o presidente tem necessidade extrema desse encontro.
O que Cabral não disse no palco do cineteatro Messias, naquela tarde, mas precisa de dizer, rapidamente, principalmente aos habitantes e aos pequenos investidores do Luso, é que a concretização do projecto depende muito mais da sociedade civil, dos agentes económicos — numa economia global à beira da recessão — do que da boa vontade da Câmara Municipal da Mealhada. O presidente da Câmara, que, para chegar aos investidores, elevou as expectativas a um patamar quase inimaginável, que empenhou, declaradamente, a cabeça perante os mais cépticos — que são muitos — tem a obrigação pedagógica de dizer, claramente, que a missão da Câmara passará por criar as condições para que as empresas de turismo, das tecnologias da saúde, de beleza e bem-estar se instalem no concelho da Mealhada. Tem a obrigação de deixar claro que a Câmara não vai construir nenhum hotel, nem comprar terrenos para a sua instalação. Deve esclarecer que vai adquirir o espaço da plataforma industrial de Barrô para vender os lotes de terreno às empresas que desejem comprar, mas que não vai fazer nenhuma fábrica de produtos de beleza. Tem o dever de deixar expresso que vai requalificar, em termos urbanos, o centro do Luso, com novas lojas e novos espaços, mas que não vai garantir um aumento de turistas, de lojistas ou de variedade. Consideramos — mesmo que possa pensar-se que caímos no paternalismo ou numa infantilização dos cidadãos — que Carlos Cabral tem a obrigação de explicar aos munícipes que o sucesso deste projecto está, apenas em pequena parte, nas mãos da Câmara, e que o fundamental está nas mãos dos próprios lusenses e dos agentes económicos.

O programa Destino Luso compromete o futuro do município da Mealhada e, naturalmente, os próximos executivos camarários, não como ónus, mas como legado. O próximo mandato autárquico, 2009-2013, será o da revolução total. Pelo que, assim se espera, será sobre este programa que incidirão as principais dúvidas a tirar na campanha eleitoral que se avizinha. Mas Cabral surgiu sozinho no palco, como o “rosto e o nome” de um projecto revolucionário para o Luso — a jóia da coroa do concelho da Mealhada, pelo que parece. E na plateia não figurava nem Rui Marqueiro, nem César Carvalheira, dois candidatos eventuais ao lugar de Cabral. Mesmo sem a música épica da banda sonora do “Gladiador”, que anima a presença de Sócrates, ou dos sons de Vangelis, que pendiam sobre Guterres, a verdade é que Cabral teve ali condições para proporcionar momento de glória. Uma saída pela porta grande, poderá dizer-se, ou uma utilização cirúrgica de grande parte dos trunfos que tem para se afirmar como o candidato natural e ideal a novo mandato camarário? Se não conhecerem o projecto e nem se comprometerem com ele, não estarão Marqueiro e Carvalheira em sérias dificuldades?

Editorial do Jornal da Mealhada de 29 de Outubro de 2008