Uma questão de vontade — dois anos depois
A propósito da avaliação das escolas de samba do Carnaval da Bairrada

A direcção da Associação do Carnaval da Bairrada, na passada sexta-feira, 6 de Fevereiro, lançou ao Jornal da Mealhada o desafio de organizar a avaliação da prestação das escolas de samba no desfile do Carnaval Luso-brasileiro da Bairrada que se realizará daqui a uma semana e meia. Colocadas algumas questões que considerávamos relevantes, aceitámos a proposta que nos estava a ser feita, a missão que nos estava a ser confiada.
E aceitámos, quase de imediato, por duas ordens de razões, facilmente explicáveis. Em primeiro lugar, porque foi a Associação do Carnaval da Bairrada que nos faz esse convite, o que vai ao encontro do compromisso que deixámos no final do concurso de escolas de samba de 2007, e que mais à frente lembraremos. Em segundo lugar, porque acreditamos que a avaliação da prestação das escolas, feita por pessoas interessadas e com sensibilidade para a questão, é fundamental para a melhoria da qualidade dos festejos do Carnaval mealhadense e, portanto, para a sua promoção.
Não será desadequado lembrarmos a forma como o Jornal da Mealhada, desde Fevereiro de 2005, especialmente, se tem batido pelo reconhecimento de que há necessidade da realização de uma avaliação qualificada da prestação de cada uma das escolas de samba no desfile, e pela criação de condições para que ele se efectue. Conseguimos, perdoem a imodéstia, com a qualidade do Carnaval de 2007, mostrar que a existência de um concurso, com a competição entre escolas, contribui de forma relevante para o atingir de níveis de excelência no desfile. Não dizemos que foi o único ou, mesmo, o principal factor para que o cortejo desse ano de 2007 tivesse sido considerado o melhor de sempre, mas acreditamos que terá sido muito importante.
Em 2005 fizemos uma análise crítica, detalhada, dos desfiles das escolas de samba — na altura cinco — cujo resultado publicámos sob a forma de artigo de opinião. Já nessa altura assumimos que, se a marca com a qual o Carnaval na Mealhada se quer afirmar é a de luso-brasileiro, então o desfile de referência deve ser o do Carnaval do Rio de Janeiro. A medida resultou e, graças, também, ao apoio das escolas, decidimos promover, no Carnaval de 2006, um concurso que contou com a avaliação de vinte e dois jurados de diversas áreas profissionais e com gostos e sensibilidades naturalmente diferentes. Criámos um modelo aprofundado, sistematizado, baseado em regulamentos e manuais adaptados do Carnaval carioca. Graças ao apoio de três empresas e da carolice de voluntários que apoiaram o Jornal da Mealhada nesta realização, foi possível atribuir um relevante prémio monetário a cada uma das três escolas mais bem classificadas no concurso.
Foi nos preparativos do Carnaval de 2007 que assumimos a realização do concurso como um contributo relevante para o Carnaval e como uma responsabilidade social importante da empresa JM — Jornal da Mealhada, Lda e da marca e do título Jornal da Mealhada. Às escolas, antes de avançarmos, fizemos saber que lhes caberia decidir o caminho que se seguiria — a via da resignação, ou a da melhoria da qualidade do seu desempenho com base no juízo critico de quem, como qualquer elemento do público, havia feito uma análise do espectáculo na perspectiva do espectador, que pagara para ver. A decisão foi a de continuar na senda do aperfeiçoamento.
O Jornal da Mealhada organizou a segunda edição do concurso, as escolas efectuaram melhorias com base na análise crítica que havia sido feita. Os desfiles, como já dissemos, foram considerados, por número significativo de pessoas, os melhores de sempre. E como a competitividade promove o brio, o empenho em fazer as coisas bem, agradáveis para quem vê e não só para quem desfila, houve uma mudança na atitude dos dirigentes de algumas escolas, em termos de planificação de trabalho, ensaios, e atitudes no desfile, o que justificava plenamente a prossecução deste trajecto de avaliação.
Assumimos, no final do Carnaval de 2007, o compromisso de transferir para as escolas de samba e para a Associação do Carnaval da Bairrada a decisão, exclusiva, de continuar a realizar, ou não, o concurso. Decidiram, nos preparativos do Carnaval de 2008, que não havia condições para fazer concurso nesse ano. Ficámos tristes com a resposta mas contentes com o facto de, pelo menos, sem a nossa intervenção, o assunto ter sido abordado. Decidiram, nos preparativos do Carnaval de 2009, que não havia condições para fazer concurso também neste ano, mas declararam que consideravam ser necessária uma avaliação à prestação das escolas. Aplaudimos a deliberação e sentimo-nos felizes e honrados pelo facto de a direcção da Associação do Carnaval da Bairrada ter entendido que o Jornal da Mealhada era a instituição que melhores condições reunia para promover essa avaliação. Proporcionámos aos protagonistas a decisão de continuar a promover a melhoria do Carnaval. Aceitaram prosseguir esse caminho. O Carnaval da Mealhada do futuro agradecer-lhes-á por isso, estamos certos. Tratava-se de uma questão de vontade, e a vontade move montanhas. Procuraremos fazer o melhor possível na avaliação deste ano, conscientes da importância da missão que nos foi confiada.

Editorial do Jornal da Mealhada de 11 de Fevereiro de 2009