O futuro em Copenhaga
A propósito da Conferência de Copenhaga sobre alterações climáticas

Está registar-se no planeta Terra um conjunto de alterações do clima num período extraordinariamente reduzido de tempo. As condições de habitabilidade do globo terrestre estão a mudar drástica e rapidamente. As pessoas conseguem identificar – unicamente com as suas vivências – várias alterações ao clima comparando a actualidade com o tempo da sua meninice. A sustentabilidade e a viabilidade do planeta, enquanto território habitado por humanos e muitas outras espécies animais, estão em risco.
Desde 1988 que a Organização das Nações Unidas tem evidenciado preocupação com o assunto. Há a consciência de que o ritmo acelerado das alterações ao clima é consequência do comportamento humano relativamente à utilização dos recursos naturais e ao tratamento dado aos resíduos da produção humana. Depois de nove anos de discussões e muitos estudos, em 1997, no Japão, na cidade de Quioto, os diplomatas de vários países chegaram a um consenso e estabeleceram um tratado internacional – o Protocolo de Quioto – pelo qual se obrigavam a reduzir, em cinco por cento, até ao ano de 2012, o volume das emissões de gases que contribuem para o efeito de estufa tendo os níveis de 1990 como referência. O Protocolo de Quioto entrou em vigor no dia 16 de Fevereiro de 2005, após a assinatura da Rússia, quando, finalmente, “55 por cento dos países responsáveis por 55 por cento da poluição no mundo” tinham subscrito o tratado.
Em 2012 termina o prazo para o cumprimento das normas e recomendações do acordo de Quioto e há a necessidade de continuar a trilhar o caminho estabelecido no sentido de procurar atenuar os prejuízos que a utilização humana dos recursos terrestres está a provocar no planeta. É neste contexto que se realiza em Copenhaga, na Dinamarca, de 7 a 18 de Dezembro próximo, uma conferência inter-governamental no sentido de alcançar mais pontos de entendimento político para a prossecução dos objectivos de protecção do planeta Terra.
Alguma hesitação recente manifestada pelo Governo norte-americano, no entanto, leva a crer que os resultados de Copenhaga podem ser politicamente vinculativos, mas sem força jurídica vinculativa. Obama – apesar de ter sido galardoado com o Prémio Nobel da Paz com base na capacidade que demonstrou em dar esperança às pessoas –, neste assunto, parece não pensar de modo muito diferente da de Bush e torna-se muito difícil assegurar um futuro mais limpo para o planeta sem a adesão de um dos maiores poluidores, os Estados Unidos da América. As notícias dão-nos conta de que quase “todos os países desenvolvidos” já têm números sobre os esforços que se propõem fazer para reduzir as emissões de gases contribuem para o efeito de estufa, mas falta a resposta americana e, por isso, a assinatura de um novo tratado pode ser mandada para as calendas.
“Cientistas do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas sustentam que os países desenvolvidos têm de abater 25 a 40 por cento das suas emissões de dióxido de carbono até 2020, em relação a 1990, de modo a manter o aquecimento global dentro de limites mais aceitáveis. A Noruega e o Japão prometem cortes de 40 e 25 por cento, respectivamente. A União Europeia assume 20 por cento, mas está disposta a ir até aos 30 por cento, caso haja um compromisso global ambicioso. A UE é o único bloco com uma promessa vinculativa, de que os compromissos do tratado serão vertidos para a legislação comunitária”, pode ler-se na imprensa mundial de referência. E dos cientistas ouve-se, também, a afirmação de que “apesar destas propostas, e sem números dos EUA, a soma de todos os esforços já sugeridos não chega ao mínimo considerado como necessário”.
Nas próximas semanas os líderes mundiais juntam-se para ajudar a resolver um problema global. Um problema cuja solução é difícil, que exige cedências e restrições, mas, acima de tudo, espírito de responsabilidade moral e social e, também, apesar da crise, de muito investimento. “Mesmo para um acordo político, há muito ainda por negociar. Falta definir os esforços que os países em desenvolvimento devem fazer para atenuar a subida das suas emissões de dióxido de carbono. Também sobre a mesa está a questão do financiamento à adaptação dos países pobres a um mundo mais quente, que pode custar 100 mil milhões de euros por ano”, refere a imprensa especializada. O futuro estará nas mãos dos líderes mencionados? Estará o futuro em Copenhaga? Quem dera que esteja!

Editorial do Jornal da Mealhada de 25 de Novembro de 2009 e do jornal FRONTAL de 26 de Novembro de 2009.