O fado do encontro
Não estivemos, sempre, condenados a entendermo-nos?

Pedro Passos Coelho encontrou-se com José Sócrates, na semana passada, para lhe dizer que está disponível para ajudar na promoção de medidas que ajudem o país a salvar-se da ofensiva especulativa e do pânico criado à volta dos mercados mundiais. O primeiro-ministro teve a sabedoria de corresponder e dirigiu-se ao Presidente da República, solicitando-lhe novo encontro desta vez com o ministro de Estado e das Finanças, Teixeira dos Santos. Paulo Portas, líder do CDS, dirigiu-se, também, a Belém, para se encontrar com o presidente Cavaco Silva. Enquanto isso o líder do maior partido da oposição, o mesmo Passos Coelho, encontrava-se com antigos ministros das Finanças para debater medidas a tomar para apoiar o país. Antigos governantes estes que se encontrarão com o Chefe do Estado nos próximos dias. Foi preciso soarem todas as sinetas e alarmes, e a ameaça da necessidade de intervenção do FMI, para os governantes portugueses tomarem consciência de que têm de se entender? Um entendimento que tem de advir não de uma obrigação de promiscuidade politica entre pessoas que pensam de modo diferente e defendem diferentes modelos de desenvolvimento, mas por necessidade imperiosa da Nação.
Os ministros das Finanças dos vinte sete estados membros da União Europeia encontraram-se, em Bruxelas, para discutir os termos da ajuda à Grécia. Juntaram-se ao encontro os representantes do FMI e daí saiu entendimento para empréstimo de 110 mil milhões de euros aos helénicos. Ângela Merkel, a chanceler alemã, e Christine Lagarde, a ministra das Finanças francesa, quiseram garantias sérias da parte de George Papandreou, chefe do Governo grego. E do encontro resultou a convicção de que as instituições europeias têm de encontrar maneira de se tornar menos vulneráveis à incompetência dos políticos nacionais e à influência de especuladores dos mercados. Dão bons frutos, os encontros, em tempo de desespero?
Ao mesmo tempo, deste encontro, numa Europa desprovida de lideranças carismáticas, já se ouvem vozes de autoridade garantirem que “se nos casámos” é para sermos solidários até ao fim, na “saúde e na doença, na riqueza e na pobreza”. Em boa hora se lembra que se portugueses, espanhóis e gregos receberam fundos para a coesão europeia, alemães e franceses receberam vários milhões de novos compradores para os seus produtos. Numa família – e não é isso que querem que a União Europeia seja? – não se expulsam os filhos com maiores dificuldades. Também neste caso não nos resta alternativa se não o encontro e o entendimento…

Editorial do Jornal da Mealhada de 5 de Maio de 2010