A vitória da Morte

Apesar do tempo pascal, a sociedade ocidental parece rejubilar com a morte de Osama Bin Laden. Os tempos serão de júbilo para as que, no Direito Internacional, são chamadas “nações polidas e civilizadas”. Uma semana depois de a maioria cristã do ocidente assinalar a vitória da Ressureição de Cristo sobre a Morte, comemora-se, agora, a Vitória da Morte de Osama Bin Laden.
Discute-se nalguns fóruns a veracidade do anúncio proclamado pelo Prémio Nobel da Paz de 2009 e presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama. As fotos do cadáver parecem ser manipuladas e a sepultura no alto mar, pouquíssimas horas depois da morte – com o zelo tradicional islâmico, mesmo quando a regra islâmica até impõe 24 horas –, deixam dúvidas sobre a realidade dos factos.
Por outro lado, há quem diga que Bin Laden já não era a figura central da Al-qaida, o que esvazia de importância o assassinato do ícone da organização terrorista autora material dos atentados de 11 de setembro de 2001. Enche de valor, no sangue do martírio, portanto, uma figura que já só valia pelo que tinha sido e não pelo que era, na atualidade, de facto.
A capacidade dos ocidentais para criarem mártires entre os fundamentalistas chega a ser confrangedora. Seria necessário, uma vez mais, o recurso à Lei de Talião – a do “olho por olho, dente por dente” – para fazer justiça perante alguém que, mesmo sendo um monstro, não deixa de ser um homem?
Não compreendemos o regozijo na morte. Não compreendemos o elogio da brutalidade como forma de combater direitos de democraticidade, de humanidade, de liberdade. Capturar Bin Laden e julgá-lo – como foi feito com Slobodan Milosevic ou Radovan Karadzic –, com uma eventual prisão perpétua, seria a forma civilizada de tratar o problema. Emboscá-lo e matá-lo – a ele e à família – foi a melhor forma de o tornar um mártir e de, apartir desse episódio, criar mais dez ou vinte terroristas, capazes de lhe seguir o exemplo.
A guerra contra o terrorismo só se ganha com inteligência. É, talvez por isso, das guerras mais complexas com que a humanidade já se deparou.
O assassinato de Osama Bin Laden foi mais uma derrota do lado Bom da Força. Foi mais uma vitória da violência, da ignorância, do erro e da maldade. Foi mais um fornecimento de mártires e de fundamentalistas. Na lógica terrorista de ver a realidade, Bin Laden teve a morte dos heróis. Ao morrer no campo de batalha teve acesso aos benefícios de que é alimentado o pensamento terrorista e ignorante.
Não subscrevemos, portanto, “solidariedade” do Chefe de Estado português “perante os sentimentos do povo norte-americano ao ser conhecido o desenlace da operação militar de que resultou a morte de Osama bin Laden”. Até porque nos parece incompreensível a ideia de que “a presente operação é resultado dos esforços persistentes dos Estados Unidos da América, do povo norte-americano e, em particular, da administração Obama, na perseguição aos responsáveis por aqueles atentados e constituem um sinal da determinação de todos quantos acreditam na construção de um mundo assente nos valores do diálogo e da tolerância entre Povos e culturas”.
Compreendemos a solidariedade de Aníbal Cavaco Silva, “em nome do Povo português”, perante “os sentimentos de solidariedade na luta contra o terrorismo e na rejeição de todas as formas de extremismo”. Mas não desta maneira. Lamentavelmente.