Começaram, esta noite, os “debates” televisivos entre os cidadãos candidatos à Presidência da República Portuguesa, cuja eleição terá lugar no próximo dia 24 de janeiro de 2021. Na RTP encontraram-se Marisa Matias e Marcelo Rebelo de Sousa, e na TVI juntaram João Ferreira e André Ventura (pelo que se viu, por vontade própria, aqueles dois nunca se encontrariam).

Dos dois debates duas palavras me assolaram: Sedução e Repulsa. Misturadas e confundidas.

Marcelo procurou seduzir Marisa. Fê-lo sem pudor, sem qualquer constrangimento. Elogiou-a e conseguiu desarmá-la. A combatente não resistiu à sedução e deixou-se levar. Marcelo procurou repelir a imagem de quem, com soberba, sabe que a reeleição está garantida. Marcelo gostaria de fazer história com a maior reeleição da Presidência em Democracia, mas não lhe agrada que isso seja demasiado evidente.

Ferreira procurou repelir Ventura e qualquer espécie de validação do ideário que representa. Ventura procurou seduzir todo o eleitorado anti-comunista que existe em Portugal desde há 100 anos. Ferreira procurou seduzir todos aqueles que acham que ir a um debate com um ‘fascista’ é indigno de um democrata e que com fulanos como Ventura o desprezo é a arma mais indicada. Ventura procurou, ainda, repelir qualquer vantagem que João Ferreira pudesse ter pela sua idade, pela sua boa imagem televisiva, e por isso o tratou por ” Ó João”.

Sedução e Repulsa cruzada, misturada e confundida naquela que (assim está demonstrado pelos candidatos) será a única campanha que apetece fazer aos candidatos e que os eleitores estão dispostos a aturar num Estado de Democracia imergente. Mas convenhamos: Isto não são debates, são entrevistas cruzadas. Nos debates o papel do moderador é meramente simbólico e quanto muito instrumental. Hoje em dia, nas democracias ocidentais, o papel do jornalista é demasiado poderoso, é metodológico e sistemático. E isso não são debates de forma nenhuma.

BFD [2446.] ao #15258 .º