Com o mando

Ao longo dos mais de seis anos que levamos como diretor do Jornal da Mealhada, confesso, a relação que tivemos com o Comandante Faustino Agante Pinho, dos Bombeiros Voluntários da Pampilhosa, nunca foi tão próxima como a que fomos fomentando com outros protagonistas no concelho. O Comandante Faustino sempre cultivou uma imagem de um certo distanciamento e até de alguma desconfiança relativamente aos jornalistas e aos órgãos de comunicação social. Não é, no entanto, uma personalidade que tivessemos deixado de respeitar por causa disso. E, podemos confessá-lo agora, até o compreendemos.
A arte de liderar homens e mulheres requer treino, requer inteligência, requer astúcia, requer bom senso, requer paciência, requer resistência e, acima de tudo, requer muita dedicação e muito amor – a Caridade (essa palavra tão incompreendida). Estes são os ingredientes necessários para liderar homens e mulheres nas empresas, nas associações, nos grupos informais… há uma biblioteca inteira de livros a explicar como é que isso se faz!

Mas liderar homens e mulheres para situações limite, para cenários em que está em causa um perigo físico, um risco de vida (sua ou de outrem), uma catástrofe, é coisa diferente. Para se ser comandante de bombeiros voluntários é preciso ter carisma – que Max Weber dizia ser a autoridade nata daqueles que conseguem ser ouvidos sem precisar de berrar. Para se ser comandante de bombeiros voluntários é preciso conhecer cada homem e cada mulher nos seus defeitos e virtudes, nos seus medos e angustias, nas suas capacidades e competências.
É por isso que nem todos podem ser comandantes de bombeiros voluntários. É por isso que quando se encontra um comandante de bombeiros – e é um achado, compreenda-se – é um crime perdê-lo!
Uma vida dedicada aos bombeiros é uma vida de entrega, de sacrificio. Uma vida dedicada ao comando de um corpo de bombeiros é uma vida de angustia, de tensão. Não deve ser fácil pedir a alguém que aceite tão nobre, mas tão pesado fardo. Alguns até o podem aceitar imediatamente, pelo penacho, pela farda, pela pompa, pela continência… Mas o som do bater dos tacões cedo deixará de encantar e reconhecer-se-á que não é comandante quer quer…
Faustino Pinho é alguém que exerceu o cargo durante 27 anos. Sucedeu a António Messias Silva, trabalhou com diretores muito diferentes, assumiu a corporação num quartel acanhado e sem condições e entrega-a num quartel amplo e com todas as comodidades para o exercicio do voluntariado num corpo de bombeiros. Faustino Pinho comandou os seus bombeiros em situações dificeis e teve, certamente, dificuldades em mantê-los motivados em tempos de dificuldades e sem acção.
O mérito de Faustino Pinho, no entanto, acaba por ser a capacidade e a inteligência que teve de preparar o seu sucessor, no caso, a sua sucessora. É um risco muito grande fazer o que fez o comandante da Pampilhosa. Preparar o sucessor é arriscado, é perigoso e só é possível ser feito por quem tem uma perfeita noção do que vai ser o futuro, por quem tem uma noção perfeita do que é e do que não é como homem e como líder. Faustino Pinho apostou tudo na escolha de Ana Paula Ramos. Vamos ver se acertou!
Entretanto a Liga dos Bombeiros Portugueses atribuiu-lhe o Crachá de Ouro a mais alta condecoração até agora entregue a um bombeiro. Faustino Pinho merece-o, tem o dom do mando.

Editorial do Jornal da Mealhada de 29 de junho de 2011

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